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terça-feira, 25 de julho de 2017

Princípios Elementares de Filosofia - Materialismo Filosófico Capítulo I


A MATÉRIA E OS MATERIALISTAS

I   - O que é a matéria?
II  - Teorias sucessivas da matéria.
III -  O que é a matéria para os materialistas.
IV -  O espaço, o tempo, o movimento e a matéria.
V  -   Conclusão.

Depois de ter definido:

Primeiro, as idéias comuns a todos os materialistas, em seguida, os seus argumentos contra as filosofias idealistas, e, por último, demonstrado o erro do agnosticismo, vamos tirar as conclusões  deste ensino e reforçar nossos argumentos materialistas, trazendo as nossas respostas às duas perguntas seguintes:

1.     O que é a matéria?
2.     Que significa ser materialista?

I.-    O que é matéria?



Importância da pergunta. Cada vez que temos um problema a resolver, devemos pôr as perguntas bem claramente. Com efeito, aqui, não é tão simples dar uma resposta satisfatória. Para conseguir isso, devemos fazer uma teoria da matéria.

Em geral, as pessoas pensam que a matéria é o que pode ser tocado, o que é resistente e duro. Na antiguidade grega,  era assim que se definia a matéria.

Hoje, sabemos, graças às ciências, que rsso não é exato.


II.  Teorias sucessivas da matéria.

(O nosso objetivo é passar em revista, o mais simplesmente possível, as diversas teorias relativas à matéria, sem entrar em explicações cientificas)

Na Grécia, pensava-se  que a matéria era uma realidade cheia e impenetrável, que, até o infinito, não podia dividir-se. Chega um momento, dizia-se, em que partículas são indivisíveis; e, a tais partículas, deu-se o nome de átomos (átomo = indivisível). Uma mesa é, então, um aglomerado de átomos. Pensava-se, também, que esses átomos eram diferentes uns dos outros: havia os lisos e redondos, como os do azeite, e os rugosos e curvos, como os do vinagre.

Foi Demócrito, um materialista da antiguidade, que pôs de pé esta teoria: foi ele que, primeiro, tentou dar uma explicação materialista do mundo. Pensava, por exemplo, que o corpo humano era composto por átomos grosseiros, que a alma era um aglomerado de átomos mais finos e, como admitia a existência dos deuses, e quisesse explicar tudo como materialista, afirmava que os próprios deuses eram compostos por átomos extrafinos.

No século XIX, esta teoria modificou-se profundamente.

Pensava-se sempre que a matéria se dividia em átomos que estes eram partículas  muito duras atraindo-se umas as outras. Abandona-se a teoria, dos Gregos, e os átomos já não eram curvos ou lisos, mas continuava a sustentar-se que eram impenetráveis, indivisíveis e sofriam um movimento de atração uns contra os outros.

Hoje, demonstra-se que o átomo não é um grão de matéria impenetrável e insecável (Isto é, indivisível), mas que se compõe de partículas denominadas elétrons girando a enorme velocidade à volta de um núcleo, onde se encontra condensada a quase totalidade da massa do átomo. Se este é neutro, elétrons e núcleo, tem uma carga elétrica, mas a carga positiva do núcleo é igual a soma das cargas negativas transportadas pelos elétrons. A matéria é um aglomerado desses átomos, e se opõe uma resistência à penetração é precisamente por causa do movimento das partículas que a compõem.

A descoberta destas propriedades elétricas da matéria e, em particular, a dos elétrons provocou, no princípio do século XX, um assalto dos idealistas contra a própria existência da matéria.

“O elétron não tem nada de material, pretendiam eles. É apenas uma carga elétrica em movimento.. Se não há matéria na carga negativa, Por que haveria no núcleo positivo? Portanto, a matéria deixou de existir. Só há energia”

Lênin, em “Materialismo e empiriocriticismo” (cap.V), repôs as coisas no seu devido lugar, mostrando que energia e matéria são inseparáveis. A energia é material, e o movimento é apenas o modo de existência da matéria. Em suma, os idealistas interpretavam ao contrário as descobertas da ciência. No momento em que esta punha em evidência aspectos da matéria ignorados até então, concluíam que a matéria não existe, sob pretexto de que não é semelhante à idéia que dela se fazia outrora ,  quando se acreditava que matéria e movimento eram duas realidades distintas22.

III.  -  O que é matéria para os materialistas

Sobre este assunto, é indispensável fazer uma distinção. Trata-se de ver em primeiro lugar:

I. O que é a matéria?
depois
2.  Como é a matéria?
A resposta que os materialistas dão a primeira pergunta é que a matéria é uma realidade exterior, independente do espírito, e que não necessita deste para existir. Lênin diz, a propósito:
A noção de matéria exprime apenas a realidade objetiva que nos é dada na sensação23.
Quanto a segunda pergunta: “ como é a matéria?” os materialistas dizem: “Não é a nós que compete responder, é a ciência”

A primeira resposta não mudou da antiguidade aos nossos dias.
A segunda mudou e deve mudar, por que depende das ciências, do estado do conhecimento humano. Não é uma resposta definitiva.

Vemos que é absolutamente indispensável pôr bem o problema e não deixar os idealistas misturar as duas perguntas. É preciso separá-las bem, mostrar que a primeira é a principal e que nossa resposta ao assunto é, desde sempre invariável.

Porque, a única “propriedade” da matéria cuja admissão definiu o materialismo filosófico é ser uma realidade objetiva, existir fora de nossa consciência24.

IV. – O espaço, o tempo, o movimento e a matéria.

Se afirmamos, porque o constatamos, que a matéria existe fora de nós, afirmamos também:

1.  Que a matéria existe no tempo e no espaço.
2.  Que a matéria está em movimento.

Os idealistas, esses pensam que o espaço e o tempo são idéias de nosso espírito { é Kant quem, primeiro, tal defendeu}. Para eles, o espaço é uma forma que damos às coisas, nasceu do espírito do homem. O mesmo acontece com relação ao tempo.

Os materialistas afirmam, pelo contrário, que o espaço não está em nós, nos é que estamos nele. Afirmam,  também, que o tempo é uma condição indispensável ao desenvolvimento de nossa vida; e que, por conseqüência, o tempo e o espaço são inseparáveis do que existe fora de nós, isto é, da matéria.

...As formas fundamentais  de todo o ser são o espaço e o tempo, e um ser fora do tempo é um absurdo tão grande como um ser fora do espaço25.

Pensamos, portanto, que há uma realidade independente da consciência. A creditamos que o mundo existiu antes de nós e que, depois de nós, continuará a existir. Acreditamos que o mundo, para existir, não precisa de nós. Estamos persuadidos que Paris existiu antes de nascermos e, a menos que seja definitivamente arrasada, existirá depois de nossa morte, Estamos certos que Paris existe, mesmo quando não pensamos nisso, do mesmo modo que há dezenas de milhares de cidades que nunca visitamos, de que nem sequer sabemos o nome, e que, todavia, existem. Tal é a convicção geral da humanidade. As ciências permitiram dar a este argumento uma precisão e uma firmeza que aniquilam as astucias idealistas.

As ciências da natureza afirmam positivamente que a terra existiu em estados tais, que nem o homem, nem nenhum ser vivo a habitava, nem podia habitar. A matéria orgânica é um fenômeno tardio, o produto de uma evolução muito longa26.

Se as ciências nos fornecem, portanto, a prova de que a matéria existe no tempo e no espaço, ensinam-nos ao mesmo tempo, que está em movimento. Esta última afirmação, que as ciências modernas nos forneceram, é muito importante, porque destruiu a velha teoria segundo a qual a matéria seria incapaz de movimento, inerte.

O movimento é o modo de existência da matéria...A matéria sem movimento é tão inconcebível como o movimento sem matéria27.

Sabemos que o mundo, no seu estado atual, é o resultado, em todos os domínios, de uma longa evolução e, por conseqüência, de um movimento lento, mas continuo. Esclarecemos, portanto, depois de ter demonstrado à existência da matéria, que

O universo é apenas matéria em movimento, e esta matéria em movimento só se pode mover no espaço e no tempo28.

V.  Conclusão.

Resulta destas constatações que, a idéia de Deus, a idéia de um “puro espírito” criador do universo não tem sentido, porque um Deus fora do espaço e do tempo é qualquer coisa que não pode existir.

È preciso participar da mística idealista, por conseqüência, não admitir nenhum controle científico, para acreditar num Deus fora do tempo, isto é, não existindo em nenhum momento, e existindo fora do espaço, ou seja, não existindo em parte alguma.

Os materialistas, seguros das conclusões das ciências, afirmam que a matéria existe no espaço e num dado momento (no tempo). Por conseqüência , o universo não pôde ser criado, porque teria sido preciso a Deus, para poder criar o mundo, um momento que não existiu em nenhum momento(uma vez que o tempo para Deus não existe), e seria preciso, também, que de nada saísse o mundo.

Para admitir a criação, é preciso, pois, admitir, em primeiro lugar, que houve um momento em que o universo não existia, depois, que nada saiu qualquer coisa, o que a ciência não pode admitir.

Vemos que os argumentos dos idealistas, confrontados com as ciências, não podem manter-se, enquant5o que dos filósofos materialistas não podem ser separadas das próprias ciências. Sublinhamos assim, uma vez mais, as relações íntimas que ligam o materialismo e as ciências.


 22 A II parte deste capítulo foi refeita com a ajuda de Luce Langevin e Jean Orcei. Sobre o progresso realizado depois  do século no estudo da estrutura da matéria, ver F, Joi-iot- Curie:”Textos escolhidos” Edições sociais, PP.85-89.
23 Lênin: “Materialismo e empiriocriticismo”, Ed. Avante 1982.
24 Lênin:  “Materialismo e empiriocriticismo”, Ed. Avante 1982
25 Friedrich Engels: “ “Anti-Duhring”, Edições Sociais, 1956, p.84
26 Lênin: “Materialismo e empirocriticismo”. Ed. Avante, 1982
27 Friedrich Engels: “ Anti-Duhring”, p.92
28 Lênin: “Materialismo e Empirocriticismo”, Ed, Avante 1982

 Próximo capitulo: Que significa ser materialista?





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