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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

A Indústria pornográfica e o machismo








Peter Sarsgaard e Amanda Seyfried em “Lovelace” (Foto: Dale Robinette/Divulgação)


Nos dias atuais, é comum que qualquer pessoa tenha fácil acesso à pornografia. Isso não é por coincidência; é proposital.
A educação sexual é importante na formação dos jovens, mas essa educação, em geral, é pouca ou quase nula. Naturalmente, as pessoas buscam referências sobre o sexo. O problema é que as primeiras referências disponíveis são os sites de pornografia.
O que é mostrado na pornografia não é sexo, é estupro gravado. Dinheiro nenhum compra consentimento e as mulheres filmadas não estariam lá se tivessem condições financeiras e estruturais melhores.
O que se tem na pornografia é claro: misoginia (isto é, o ódio declarado às mulheres) e machismo. Uma pesquisa mostra que, dos 50 filmes mais vendidos de 2015, 48% de 304 cenas dos vídeos pornográficos produzidos contêm violência verbal contra mulher; 94% contêm violência física.
Se a pornografia funciona como “o professor da educação sexual”, é mais que claro que a pornografia faz parte do aliciamento para prostituição e do tráfico humano. A pornografia ensina o homem a conseguir prazer vendo o sofrimento e a humilhação da mulher e, com isso, fortalece a cultura do estupro, o machismo e a misoginia.
A pornografia tem um método de fazer com que se crie uma “dessensibilização” do espectador para com as mulheres que estão ali submetidas. A violência verbal é uma delas. Uma vez que as palavras mais ditas são “vadias” e “putas”, cria-se a falsa ideia de que as mulheres que estão lá são completamente diferentes das mulheres com quem o espectador convive. É essa ideia que a pornografia cria na cabeça das pessoas: existem mulheres que são “vadias” e existem mulheres como a mãe, a namorada, a filha, a irmã, que são mulheres de respeito. Sabemos que essa é uma ideia de propriedade que se tem sobre as mulheres, a ideia de que uma mulher é propriedade pública, à qual todos têm o livre acesso, enquanto o outro tipo de mulher, a “mulher de respeito”, pertence a uma propriedade privada. Sabemos que essa é uma das ideias mais conservadoras e machistas que o capitalismo sustenta.
Mas a questão é que se um indivíduo enxerga um tipo de mulher como sendo pública e que serve para dar prazer a ele, e outra existe para servir de outras formas “mais respeitosas”, cria-se então o entendimento ao homem de que ele tem direito de “comprar” o seu prazer.
Muitas mulheres de baixa renda e sem condições de se manter entram para a prostituição para não morrer de fome; outras mulheres são sequestradas, traficadas e obrigadas a se prostituir. Mas o fato é que, na prostituição, essas mulheres irão reproduzir as mesmas cenas humilhantes a que os homens assistem nos vídeos pornográficos, ou seja, os homens que pagam essas mulheres vão acabar também as violentando – afinal, dinheiro não compra consentimento.
O estudo “Os Efeitos da Pornografia nos Relacionamentos Interpessoais”, de Ana Bridges, da Universidade do Arkansas (EUA), notou que homens que viram qualquer vídeo pornográfico são mais inclinados a demonstrar falta de empatia por vítimas de estupro; acreditar que mulheres que se vestem “provocativamente” merecem ser estupradas; mostrar raiva contra uma mulher que flerta mas não quer fazer sexo; experimentar queda substancial no desejo por suas parceiras; e demonstrar interesse crescente em coagir parceiras em algum tipo de sexo não desejado (também conhecido como estupro).
A indústria pornográfica estadunidense lucra milhões, pois produz cerca de 4.000 a 11.000 filmes por ano e conta com a estimativa de US$ 9-13 bilhões de receita bruta anual. A cada segundo US$ 3.075,64 é gasto em pornografia. 85% de toda a pornografia na internet é produzida na Califórnia, sendo que 37% da internet é pornografia. Existem mais de 26 milhões de sites pornôs, 40 milhões de usuários consomem pornografia regularmente nos EUA. Uma a cada quatro buscas do Google são por pornografia e mais de um terço de todos os downloads feitos são pornografia.
A indústria pornográfica, atualmente, está migrando para um novo tipo de negócio, as garotas que se parecem com crianças. Antes, por lei, nenhuma mulher que aparentasse ter menos de 18 anos poderia gravar um vídeo pornográfico. Hoje, essa lei foi revogada e a categoria mais acessada nos sites pornográficos é a categoria “adolescentes” (ou, em inglês, “teens”). As palavras mais procuradas nesses sites também são “novinhas”, “ninfetas” e “garotinhas”. Aproximadamente 25% de todo o conteúdo pornográfico na internet trata-se de abuso sexual infantil.
Está muito claro que a indústria pornográfica, além de promover a objetificação, tráfico e prostituição de mulheres, cria tendências pedófilas para os consumidores de pornografia. Como essa indústria pornográfica tem forte influência em ditar com o que se deve ter prazer, também cria, portanto, uma demanda de pessoas para continuarem financiando a prostituição, o tráfico e a pedofilia através da objetificação dos corpos das mulheres e a fetichização dos corpos das crianças.

História de Linda Lovelance

Linda Boreman, mais conhecida como Linda Lovelance, tinha apenas 23 anos quando participou de “Garganta Profunda”, o filme pornográfico mais famoso de todos os tempos. Ela participou do filme contra sua vontade.
O filme foi gravado em menos de uma semana com um orçamento de 25 mil dólares. A estimativa é de que tenham sido arrecadados 600 milhões de dólares num estouro de bilheteria, dos quais apenas 1.250 dólares teriam sido pagos a Chuck Traynor, marido de Linda na época. Anos depois, ela teve de fazer uma cirurgia de retirada dos seios devido a complicações com silicone que foi obrigada por seu marido a colocar para fazer o famoso filme.
Antes de “Garganta Profunda”, Linda já sofria diversos abusos e violência por parte de seu marido, sendo forçada à prostituição e filmes pornográficos de baixo orçamento – num deles, foi obrigada a praticar zoofilia, ato que descreve como um dos momentos mais horríveis de sua vida. Ela relata que, em determinada ocasião, seu marido recebeu dinheiro em troca de entregá-la para um estupro coletivo. Linda escreveu seu livro autobiográfico, se tornou ativista contra a violência masculina e exploração sexual da mulher no mercado pornográfico.
A história de Linda é apenas uma das milhões que a indústria pornográfica cria, todos os dias. Devemos dar um basta! A vida das mulheres vale muito mais que o mero prazer masculino!

A luta das mulheres por uma sociedade melhor

Sabemos que o capitalismo ganha milhões objetificando a mulher, seja para explorar sexualmente, como fazem a indústria pornográfica e a prostituição, como também a tratando como a proletária do proletário e designando tarefas domésticas e privativas. As mulheres não merecem morrer por serem mulheres! E sabemos que, enquanto o capitalismo existir, as mulheres não estão completamente emancipadas. Esse sistema econômico sustenta o modelo vigente, que é o patriarcado. Precisamos construir um novo modelo de sociedade, precisamos construir o socialismo para que a verdadeira emancipação da mulher se concretize!
Vitória Louise

Fonte: Jornal AVERDADE

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