Translate

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Nunca antes na história dos Estados Unidos







Uma pesquisa explica a porquê do fenômeno Bernie Sanders: agora, 51% da juventude norte-americana rejeitam o capitalismo. Mas.. isso basta?
A campanha meteórica de Bernie Sanders à presidência dos EUA surpreendeu o mundo. Num país em que o espírito capitalista é visto quase como parte da própria nacionalidade, um candidato que se declara “socialista democrático” e defende o controle social sobre os mercados financeiros chegou a desafiar Hillary Clinton. Como isso foi possível?
Uma pesquisa da Universidade de Harvard, divulgada nesta segunda-feira (2/5) pode ajudar a encontrar as respostas. Ela revela que 51% dos “jovens adultos” — a população entre 18 e 29 anos — rejeitam o capitalismo em sua forma atual (o “capitalismo realmente existente”, em outros palavras). Apenas 42% o apoiam. Além disso, quase 50% dos entrevistados nesta faixa de idade defendem a Saúde com um serviço público, a ser custeado pelo Estado — o que é um anátema, nos EUA. E mesmo entre os mais idosos, e eleitores do Partido Republicano, diminuiu sensivelmente a porcentagem dos que defendem as lógicas do sistema.

Os resultados suscitam outra questão: se até mesmo nos EUA o contingente de críticos ao capitalismo é tão grande, por que é tão difícil desafiar o sistema — cujas lógicas parecem cada vez mais entranhadas nas sociedades? Outras Palavras está traduzindo, e publicará em breve, uma entrevista em que o filósofo Jacques Rancière aporta mais alguns elementos à compreensão do problema.
Estamos numa fase de transição, diz ele. As lógicas do capitalismo podem ser as mesmas, mas sua configuração mudou. “Antes existiam ‘grandes subjetivações coletivas’ (por exemplo, o movimento operário), que permitiam aos excluídos incluir-se no mesmo mundo daqueles a quem combatiam. Mas a virada neoliberal destroçou estas forças”.
Para Rancière, um dos passos indispensáveis é construir novas subjetivações coletivas, novas formas de estar no mundo que abranjam — e sejam mais corrosivas e portadoras de alternativas — do que os pertencimentos a gênero ou etnia, por exemplo. Sem isso, teme o filósofo, o risco é que a crítica ao capitalismo dissolva-se em fragmentação impotente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário