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sábado, 30 de maio de 2015

A Liberação da Mulher: mito ou realidade

       


Por Valdir Pereira - 30/05/2015 - 20,45

Hoje, sem muita inspiração, me ocorreu avaliar superficialmente o liberalismo moral que campeia a sociedade moderna.
Costumes rígidos que norteavam a minha geração, mais ou menos comportada, onde relações sexuais se consumavam geralmente nos casamentos, salvo algumas exceções. As molecadas jovens pouco namoravam ou aproveitavam a missa aos domingos para assédios fortuitos as meninas. 
Vez ou outra participavam de bailinhos, geralmente em casas de amigos, pois salões eram vistos como inadequados Salões só nos bailes de formaturas.
As amizades com as meninas, praticamente não existiam. Nas escolas, nos colégios os gêneros estudavam separados, não se misturavam até nos recreios, não se falavam.
Dois clubes predominavam: o clube do bolinha e o da luluzinha.  Homem com homem, mulher com mulher.
 Essa situação imposta pelos costumes, sofre radical mudança com o desenvolvimento social. O trabalho das mulheres nos escritórios,nas lojas e nas fábricas. Depois, em outras atividades econômicas e os setores produtivos necessitando de mão de obra especificas, mais produtivas, mais aplicadas aproximaram os gêneros e novas relações sociais comportamentais mais iguais: deu inicio na liberação geral. Se antes nem votar podiam, os novos tempos possibilitaram a mulher ser votada.
A chamada liberação feminina  gerou novos costumes. As baladas servem para encontros fortuitos de sexo, sem qualquer compromisso. Sexo ao acaso, muitas vezes imprudentes, sem proteção.
É a nova ordem que manda. É o liberou geral, chegando ao sexo em grupos.
Diante da atual situação me ocorreu relembrar um periodo de nossa história primitiva, cuja semelhança se aproximam dos costumes do sexo tribal coletivo, mencionados na obra de Engels, extraida nos apontamentos de Morgam que, pelos estudos que fez, muito contribuiu  na  elaboração do livro A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Qualquer semelhança com a atualidade é mera coincidência.

A Família Sindiásmica

A família sindiásmica aparece no limite entre o estado selvagem e a barbárie, no mais das vezes durante a fase superior do primeiro estágio , apenas em certos lugares durante a fase inferior da segunda. É a forma de família característica da barbárie, como o matrimônio por grupos é a do estado selvagem e a monogamia é a da civilização. Para que a família sindiásmica evoluísse até chegar a uma monogamia estável, foram necessárias causas diversas daquelas cuja ação se tem estudado até agora. Na família sindiásmica já o grupo havia ficado reduzido à sua última unidade, à sua molécula biotômica: um homem e uma mulher.

             E essa instituição nasceu. Inventou-se o Estado


AS GENS ENTRE OS CELTAS E GERNANOS

Aqui, vamos nos limitar a umas breves notas sobre a gens entre os celtas e os germanos.
As leis célticas mais antigas que chegaram até nossos dias mostra os a gens ainda em pleno vigor. Na Irlanda ainda sobrevive, na consciência popular, instintivamente, pois os ingleses a destruíram pela violência.

Na Escócia, em meados do século XVIII, estava em pleno florescimento; e só morreu por obra das leis, dos tribunais e das armas inglesas.

       A FORMAÇÃO DO ESTADO ENTRE OS GERMANOS 
Se foram capazes de preservar - pelo menos nos três países mais importantes (na Alemanha, na Inglaterra e no norte da França) - uma parte do autêntico regime da gens, transplantando-o ao Estado feudal sob a forma de marcas, dando aos camponeses oprimidos, mesmo durante a mais cruel servidão medieval, uma coesão local e meios de resistência que não tiveram os escravos da antigüidade e não tem o proletariado moderno - a que se deve isso senão à sua barbárie, ao sistema exclusivamente bárbaro de colonização por gens ?
Tudo que era força e vitalidade, naquilo que os germanos infundiram no mundo romano, vinha da barbárie. De fato, só bárbaros poderiam rejuvenescer um mundo senil que padecia de uma civilização moribunda. E a fase superior da barbárie, à qual tinham chegado e na qual estavam vivendo os germanos, era precisamente a mais propícia à promoção deste processo. Isso explica tudo.
Com essa pequena pincelada no quadro geral de nossa história, a intenção é traçar um paralelo com a barbarie que vigiu no pssado distante e os dias atuais.
A modernidade e a metamorfose sociologica se deu durante um periodo muito longo.
Depois da divisão social do trabalho que ensejou a criação do Estado e a civilização. No escravagismo, nenhum direito patrimonial para o gênero feminino; no feudalismo com regime monogamico, começaram a ter direitos sob a tutela da igreja, os árbitros finais.
                                 ASCENÇÂO DAS MULHERES
Vários fatores contribuiram para acenção do genero feminino. Primeiro a adoção da monogamia: que possibilitou a ela o direito de herança. Antes, a herança era partilhada pela gens: em casos exepicionais aos filhos primogenitos.
Nos dias atuais, depois de longa batalha nas ruas e nos tribunais, as mulheres alcançaram finalmente direitos iguais.
Não significa, porém, que o liberalismo sexual, como se tem praticado aleatoriamente,indiscriminadamente, sem as precauções devidas, ensejando gravidez indesejadas, sem a contrapartida responsável do homem. Neste caso, não vejo uma conquista tão decantada pelas mulheres.




sábado, 23 de maio de 2015

PORQUE OS EUA TIVERAM DE IR CONVERSAR COM À RÚSSIA



[*] Pepe Escobar, Sputnik News
Why the US is Finally Talking to Russia
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Aí, uma mulher entra na sala e... Várias piadas começam assim. No nosso caso, a autocoroada Rainha do Nulandistão, Victoria “F*da-se a UE” entra na sala em Moscou, para falar com os Vice-Ministros de Relações Exteriores da Rússia Sergei Ryabkov e Grigory Karasin.
 

Victoria "F*da-se a União Europeia" Nuland distribui "cookies" na Praça Maidan em Kiev

Piada? Oh, não; aconteceu bem assim. Por quê?
Comecemos com as reações oficiais. Karasin qualificou as conversações de “frutíferas”, mas disse que Moscou não aprova que Washington seja integrada às negociações no formato-Normandia (Rússia, Ucrânia, Alemanha e França) sobre a Ucrânia. Não, depois da incansável demonização não só do Kremlin, mas de toda a Rússia, desde o golpe de Maidan.
Ryabkov, por sua vez, fez saber que o estado atual das relações EUA-Rússia persiste... corrosivo.
É crucial não esquecer que a Rainha do Nulandistão só foi a Moscou depois de se reunir com o vassalo-de-carteirinha de Washington, presidente Poroshenko, e o primeiro-ministro que ela mesma selecionou, o tal “Yats”; isso tudo, antes de acompanhar o Secretário de Estado John Kerry na visita em trajes de gala que o Departamento de Estado fez a Sochi dia 12 de maio de 2015.
O acordo Minsk-2 – produto genuíno das negociações pelo formato Normandia – envolveu diretamente Berlim e Paris, as quais afinal viram pintada no muro a realpolitik e foram obrigadas a divergir da abordagem antagonista monomaníaca de Washington.
Dentro da União Europeia, permanece o caos em tudo que tenha a ver com a questão das sanções. Os países Bálticos e a Polônia repisam a linha histérica de “os russos estão chegando” da Guerra Fria 2.0, enquanto os adultos estão representados em Bruxelas por Itália, Grécia, Espanha e Hungria.
Assim sendo, Alemanha e França já têm problemas suficientes para manter em ordem a tumultuada casa da União Europeia. Ao mesmo tempo, Berlin e Paris sabem que nada que o governo de Obama autodescrito como “Não Faça Merda Coisa Estúpida” invente levará Moscou a abandonar as suas muito precisas linhas vermelhas.
Atenção àquelas linhas vermelhas
É crucialmente importante observar que a Crimeia já não parece estar sobre a mesa: é fato consumado. Mas há aqueles “instrutores militares” norte-americanos que foram despachados para o oeste da Ucrânia só para uma “missão de seis meses” (anotação histórica e lembrete: a guerra do Vietnã começou exatamente assim). Para Moscou, qualquer prorrogação dessa “missão” é linha vermelha absoluta.
E há também a linha vermelha máxima: a expansão da OTAN a qual permanece inabalada nos Bálticos, na Polônia, na Romênia e na Bulgária. E não ficará por aí; a expansão é parte da obsessão da OTAN com firmar uma nova Cortina de Ferro, dos Bálticos ao Mar Negro.
Assim sendo, além das conversações, o próximo passo é ver se o governo Obama consegue realmente suspender o processo de armar Kiev.
A Ucrânia, para todos os objetivos práticos, é estado falhado massivamente endividado convertido já em colônia do FMI. A União Europeia não quer a Ucrânia – mas a OTAN quer. Para Moscou, o show de horrores só terá fim quando a Ucrânia, com ou sem as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, tornar-se neutra, sem ser parte da ameaça estratégica que é a OTAN.
Como examinei em “EUA acordam para a Nova Ordem (da Seda) Mundial”, a possibilidade de que a guinada estratégica do governo Obama, que parte para conversar, em vez de amaldiçoar/ demonizar/ ameaçar, pode significar que os verdadeiros Masters of the Universe finalmente teriam compreendido que há boa probabilidade de a emergente Nova Ordem (da Seda) Mundial deixá-los para trás.
O Presidente Putin percebeu que estava em rota de grande confronto com os EUA já desde o desmembramento da Iugoslávia, da aventura na Geórgia e ante o avanço sem fim da OTAN, sempre violando as promessas ocas nas quais Gorbachev acreditou.
Putin, carregando a foto do pai, herói de guerra, participa da homenagem aos mortos na IIª Guerra (9/5/2015)
A diferença é que agora – e o Pentágono sabe disso – Moscou acumulou cerca de 10 mil armas nucleares táticas. Na eventualidade – apocalíptica – de uma guerra entre Rússia e OTAN, sonho molhado de muitos neoconservadores nos EUA, essas armas nucleares táticas poriam fora de combate todas as pistas de pouso e decolagem de aeronaves comerciais e militares de todos os países da OTAN, em vinte minutos. O que deixaria a OTAN sem pistas para operações aéreas combinadas.
Além do mais, há também o sistema s-500 de mísseis de defesa, que pode proteger a Rússia contra qualquer forma de retaliação com mísseis nucleares enviados pelo Pentágono/OTAN. Nenhuma arma ofensiva dos EUA, incluídos os bombardeiros Stealth, pode penetrar o escudo do S-500. E o Pentágono também sabe disso.
Estratégia? Que estratégia?
A estratégia de tipo Dr. Zbig “Grande Tabuleiro de Xadrez” Brzezinski sempre foi atrair a Rússia para outro Afeganistão na Ucrânia, o que levaria ao colapso da economia russa; e o grande prêmio seria a tomada, pelo ocidente, de todo e petróleo e todo o gás natural da Rússia, e, por extensão, da Ásia Central. Os ucranianos seriam bucha de canhão, como foram os afegãos desde a Jihad árabe-afegã dos anos 1980s.
Mas o governo Obama confiou demais nas próprias cartas, e a realpolitik está mostrando que a parceria estratégica Rússia-China só faz aprofundar-se e firmar-se cada vez mais, por toda a massa de terra eurasiana: a Eurásia, como empório comercial massivo em organização, de Pequim a Berlim, ou de Xangai a São Petersburgo e além, rumo a Rotterdam e Duisburg.
Sem a obsessão excepcionalista de algumas facções ativas dentro do Departamento de Estado, nenhum dos elementos dessa Guerra Fria 2.0 estaria operante, porque a Rússia é aliado natural dos EUA em vários fronts. Só isso basta para que se veja em que estado anda o “pensamento estratégico” do governo dos EUA.
Moscou, contudo, não se deixará apanhar desprevenida na atual ofensiva de mal disfarçada tentativa de seduzir, porque a inteligência russa sabe que tudo isso pode estar apenas encobrindo uma tática à moda do “Grande Tabuleiro de Xadrez” em duas etapas, enquanto o ocidente se reorganiza para ataque posterior, massivo.
Na verdade, nada de fato mudou, exceto o fato de que a doutrina original dissuasiva da era da Guerra Fria, de “Destruição Mutuamente Garantida, DeMG [orig. MAD, Mutually Assured Destruction], foi superada.
Hoje, os EUA ainda tem capacidade para Rápido Ataque Global, RAG [orig. PGS, Prompt Global Strike]. A Ucrânia não passa de detalhe. O jogo só mudará realmente, de fato, quando a Rússia tiver vedado todo o próprio território, com os sistemas S-500s à prova de RAG/PGS. Acontecerá antes do que se pensa. E é por isso que os verdadeiros Masters of the Universe – através de seus emissários – sentiram-se forçados a sentar para conversar.
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[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today, e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
– Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
− Adquira seu novo livro Empire of Chaos, publicado no final de 2014 pela Nimble Books.
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/05/pepe-escobar-porque-os-eua-tiveram-de.html
http://goo.gl/bcavjM
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quinta-feira, 21 de maio de 2015

ISIL está na Ucrânia: “Agentes do Caos” dos EUA soltos na Eurásia



Agents of chaos

Estará o chamado Islamic State in Iraque and Síria, ISIS [Estado Islâmico no Iraque e na Síria]/Islamic State in Iraque and the Levant, ISIL [Estado Islâmico no Iraque e no Levante]/Estado Islâmico (EI)/Al-Dawlah Al-Islamiyah fe Al-Iraque wa Al-Sham(DAISH/DAESH) ativo na Ucrânia pós-Maidan? Não há resposta exata, vale dizer: a resposta é “sim” e “não”.
Mais uma vez, o que é esse ISIS/ISIL/EI/DAISH/DAESH? É um bando não coeso nem homogêneo de várias milícias costuradas juntas, frouxamente, exatamente como a Al-Qaeda que o precedeu. Incluídos nessa rede há grupos do Cáucaso, que lutaram na Síria e no Iraque. Agora estão na Ucrânia, usando essa etapa como trampolim para a Europa.
Os Agentes do Caos e a Guerra pela Eurásia 
Os conflitos na Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia e Iêmen são, todos, diferentes frentes numa só guerra multidimensional que os EUA e seus aliados fazem contra toda aquela parte do mundo. Essa guerra multidimensional visa a cercar a Eurásia. China, Irã e Rússia são os principais alvos diretos.
Os EUA também mantêm uma sequência de operações mediante as quais planeja tomar esses países. O Irã é o primeiro, depois a Rússia, com a China como última parte desse conjunto eurasiano compreendido nessa “Tripla Entente Eurasiana”. Não é coincidência que os conflitos na Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia e Iêmen aconteçam bem próximos das fronteiras de Irã e Rússia, porque Teerã e Moscou são os alvos de curto prazo de Washington.
Nessa mesma linha da natureza interconectada dos conflitos em Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia e Iêmen, há também uma conexão entre as forças violentas, racistas, xenofóbicas e sectárias que foram liberadas como “agentes do caos”. Não é coincidência que a revista Newsweek tenha publicado, dia 10/9/2014, a seguinte manchete: “Voluntários nacionalistas ucranianos cometem crimes de guerra de ‘estilo-ISIS’”. [1]
Saibam disso ou não, essas forças desviantes – sejam as ultranacionalistas milícias do Setor Direita na Ucrânia, ou os degoladores da Frente Al-Nusra e oISIS/ISIL/EI/DAISH/DAESH na Síria e no Iraque, todos servem ao mesmo patrão. Esses agentes do caos estão disparando diferentes ondas de caos para impedir a integração da Eurásia e o crescimento de uma nova ordem mundial livre da ditadura dos EUA.
Esse “caos ‘construtivo’” que está sendo disparado na Eurásia acabará por alcançar também a Índia. Se New Delhi pensa que será deixada em paz, está tolamente errada. Os mesmos agentes do caos lá chegarão, como praga. A índia também está na alça de mira dos EUA, como China, Irã e Rússia.
Estranhas alianças: o ISIL/DAESH e os ultranacionalistas na Ucrânia?
Não deve surpreender ninguém que os diferentes agentes do caos estejam alinhados. Servem ao mesmo patrão e têm os mesmos inimigos, um dos quais é a Federação Russa.
Nesse contexto é que Marcin Mamon escreveu sobre a conexãoISIS/ISIL/EI/DAISH/DAESH na Ucrânia.Em sua reportagem, explica até que alguns dos combatentes vindos do Cáucaso sentem que têm uma dívida com ucranianos da extrema direita como Oleksandr Muzychko. [2]
Mamon é cineasta documentarista polonês, que produziu vários documentários sobre a Chechênia, dentre eles The Smell of Paradise com Mariusz Pilis em 2005, para a BBC. É declaradamente simpático à causa dos chechenos separatistas contra a Rússia no Norte do Cáucaso.
As viagens de Mamon ao Afeganistão e sua interação com os combatentes chechenos resultaram em que o documentarista polonês também teve contatos com o ISIS/ISIL/EI/DAISH/DAESH dentro da Síria e da Turquia. E esses contatos, sem que o documentarista esperasse, acabaram por levá-lo por nova trilha, até a Ucrânia.
“Naquele momento, eu nem sabia com quem me encontraria. Só conhecia aquele Khalid, meu contato na Turquia com o Estado Islâmico [ISIS/ISIL/EI/DAISH/DAESH], que me dissera que seus ‘irmãos’ estavam na Ucrânia e que eu podia confiar neles” – Mamon escreve sobre seu encontro, numa “rua esburacada em Kiev, a leste do Rio Dnieper, numa área conhecida como Margem Esquerda”. [3] Num artigo anterior, Mamon explica que esses ditos “‘irmãos’ eram membros do ISIS e de outras organizações”, que “estão em todos os continentes, e em praticamente todos os países, e agora estão também na Ucrânia”. [4] Explica ainda que “”Khalid, que usa pseudônimo, lidera o braço clandestino do Estado Islâmico em Istanbul. Veio da Síria para ajudar a controlar o fluxo de voluntários que chegavam à Turquia, vindos de todo o mundo, querendo unir-se à jihad global. Naquele momento, ele queria pôr-me em contato com Ruslan, um ‘irmão’ que lutava com os muçulmanos na Ucrânia”. [5]
Ultranacionalistas ucranianos como Muzychko também logo viraram ‘irmãos’ e foram aceitos nessa rede. Mamon explica que os combatentes chechenos aceitaram Muzychko, “apesar de ele jamais se ter convertido ao Islã” e que “Muzychko, com outros voluntários ucranianos, uniu-se aos combatentes chechenos e lutou na primeira guerra chechena contra a Rússia”, na qual “comandaram um grupo de voluntários ucranianos chamado ‘Viking’, que combateu sob o comando do famoso líder militante checheno Shamil Basayev”. [6]
Por que o ISIL prepara batalhões privados na Ucrânia?
O que significa que separatistas chechenos e a rede transnacional dos chamados ‘irmãos’ ligados ao ISIS/ISIL/EI/DAISH/DAESH estejam sendo recrutados ou usados nas fileiras de milícias privadas que estão sendo usadas por oligarcas ucranianos? É pergunta muito importante. E é onde se pode ver claramente como todos esses elementos são agentes do caos.
Marcin Mamon viajou à Ucrânia para encontrar o combatente checheno Isa Munayev. O currículo de Munayev é apresentado como segue: “Mesmo antes de chegar à Ucrânia, Munayev já era bem conhecido. Combateu contra forças russas nas duas guerras chechenas; na segunda, comandou a guerra em Grozny. Depois que a capital chechena foi tomada por forças russas, entre 1999 e 2000, Munayev e seus homens refugiaram-se nas montanhas. Combateram ali até 2005, quando Munayev for gravemente ferido e viajou para a Europa para ser tratado. Munayev viveu na Dinamarca até 2014. Então irrompeu a guerra na Ucrânia, e ele decidiu que era hora de voltar a combater outra vez contra os russos”. [7]
A passagem acima é importante, porque ilustra o modo como EUA e União Europeia (UE) apoiaram militantes em luta contra a Rússia. Nos EUA e na UE, o refúgio que a Dinamarca deu a Isa Munayev nunca foi contestado; mas o apoio que supostamente Moscou estaria dando aos soldados da República Popular de Donetsk e da República Popular de Lugansk é tratado como se fosse crime. Por que as duas medidas? Por que EUA, UE e OTAN apoiam movimentos independentistas e milícias armadas em outras partes do mundo, mas reprovam e proíbem que outros países façam o mesmo?
“Um homem mais velho, numa jaqueta de couro, apresentou-me a Munayev. ‘Nosso bom irmão Khalid recomendou esse homem’, disse ele. (Khalid é hoje um dos líderes mais importantes do Estado Islâmico. Khalid e Munayev conheciam-se dos anos em que lutaram juntos na Chechênia” – explica Marcin Mamon sobre as conexões entre os separatistas chechenos e ISIS/ISIL/EI/DAISH/DAESH. [8]
Munayev viera para a Ucrânia para estabelecer “um dos que se desdobrariam em várias dúzias de batalhões privados que brotaram para lutar ao lado do governo ucraniano, operando separados dos militares”. [9] A milícia de Munayev recebeu o nome de Batalhão Dzhokhar Dudayev, em homenagem ao presidente checheno separatista.
NOTAS
1 Damien Sharkov, “Ukrainian Nationalist Volunteers Committing ‘ISIS-Style’ War Crimes”, Newsweek, 10/9/2014.
2 Marcin Mamon, “In Midst of War, Uckraine Becomes Gateway for Jihad”, Intercept, 26/2/2015.
3 Marcin Mamon, “Isa Munayev’s War: The Final Days of a Chechen Commander Fighting in Uckraine”, Intercept, 27/2/2015.
4-6 Marcin Mamon, “In Midst of War”, op. cit.
7-9 Marcin Mamon, “Isa Munayev’s War”, op. cit.
3/5/2015, Mahdi Darius NAZEMROAYA, Strategic Culture Foundation
http://www.strategic-culture.org/news/2015/05/03/isil-in-ukraine-america-agents-chaos-unleashed-eurasia.html
Tradução: Vila Vudu, 4/5/2015.

terça-feira, 12 de maio de 2015

A força da hegemonia capitalista explica a oposição ao banco dos BRICS


Os BRICS ameaçam a hegemonia norte-americana

Por Valter Pomar*
Carta Capital - Online
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Em artigo publicado recentemente pela Carta Maior, o professor J. C. Assis denunciou que o Banco Central está bloqueando a participação do Brasil no Banco dos BRICS. De fato, por vários motivos entre os quais aqueles expostos no artigo do professor Assis, o Banco Central brasileiro precisa ser nacionalizado e desprivatizado. Enquanto isto não acontecer, “nosso” BC prestará serviços aos interesses privados e internacionais.
Assis considera que o Banco dos BRICS “será a primeira fissura na arquitetura financeira internacional erigida pelos anglo-americanos no pós-guerra”. Convém então compreender quais as características fundamentais da situação internacional, vista de conjunto.
Em primeiro lugar, as relações de produção capitalistas são hegemônicas como nunca antes na história.
Até 1917 o capitalismo enfrentou sociedades pré-capitalistas; depois de 1917 enfrentou a primeira tentativa de construção do socialismo; e, durante todo este período, enfrentou as classes trabalhadoras e também a si mesmo. Mas a partir do desaparecimento da União Soviética, o capitalismo alcançou um grau de hegemonia que não tem precedente histórico; mesmo nos países governados por partidos comunistas há forte presença das relações de produção capitalistas.
Em segundo lugar, o socialismo está na defensiva estratégica.
Durante o século XX, a classe trabalhadora obteve uma série de conquistas econômicas, sociais, políticas, ideológicas e militares. No final do século XX, parte destas conquistas foi perdida. O que ocorre hoje é, num certo sentido, uma tentativa de recuperar o “espaço” anteriormente ocupado.
Em terceiro lugar, há uma profunda crise do capitalismo.
Exatamente porque o socialismo está na defensiva e porque as relações capitalistas estão mais hegemônicas que nunca, o capitalismo vive uma profunda crise. Quanto mais poderoso e hegemônico estiver o capitalismo, mais intensa é sua tendência a produzir crises de todo o tipo: econômicas, sociais, políticas, militares, ambientais etc.
Em quarto lugar, a disputa intercapitalista adquire contornos cada vez mais agressivos.
Com o socialismo na defensiva, com relações de produção capitalistas amplamente hegemônicas, com o capitalismo em crise, as disputas intercapitalistas assumem primeiro plano e tornam-se cada vez mais profundas e agressivas, com os conflitos militares assumindo mais intensidade e importância, como ocorreu entre 1900 e 1945.
Uma quinta característica da situação internacional é o declínio relativo da hegemonia dos Estados Unidos.
Trata-se de declínio, porque os EUA hoje têm menos poder do que tinham, por exemplo, em 1945. Mas trata-se de um declínio relativo, porque os EUA continuam tendo mais poder do que seus oponentes.
Se os Estados Unidos não conseguirem reverter este declínio, em algum momento deixarão de ser potência hegemônica em âmbito global, o que não os impediria de continuar sendo potência hegemônica em âmbito regional.
Mas os EUA também podem manter, durante muito tempo, a condição de potência hegemônica global, mesmo que declinante; assim como podem reverter seu declínio e prolongar sua hegemonia global por ainda mais tempo.
Uma sexta característica da situação internacional é o crescimento da influência regional e/ou global de outros países.
Os BRICS são uma aliança entre países que estão emergindo como polos alternativos de poder.
Trata-se de um processo, de uma tendência que pode ser revertida seja pelas contradições e limitações internas destes “países que ascendem”, seja pelos ataques dos Estados Unidos e aliados dos EUA.
A sétima característica da situação internacional é uma tendência à transição não apenas de potência hegemônica, mas também geopolítica no sentido mais amplo do termo.
Caso se complete o declínio dos EUA e a ascensão dos BRICS, teremos não apenas uma transição de “hegemon”, mas também uma transição mais profunda: pela primeira vez na história do capitalismo, países que não são da Europa Ocidental nem “filhotes” da Europa Ocidental (como é o caso dos EUA) assumirão a liderança em âmbito internacional.
Este contexto de mudanças potenciais tão profundas reforça o que já apontamos antes: a tendência às crises econômicas constantes, aprofundamento dos conflitos sociais, instabilidade política e militar crescente, antagonismos ideológicos e culturais.
A predominância do capitalismo gera crises, a ausência de uma hegemonia clara dificulta a rápida superação destas crises, tendo como resultado o prolongamento, o aprofundamento e o amplo espectro das crises.
Este quadro explica uma oitava característica da situação internacional: a tendência à formação de alianças e blocos de países. No quadro descrito anteriormente, todos os países tendem a uma reação defensiva. Uma das expressões desta reação defensiva é a formação de alianças e blocos de países.
O principal conflito mundial se dá entre dois blocos: de um lado os EUA e seus aliados; de outro lado os países integrantes dos BRICS.
De um lado estão os países que dirigiram o mundo capitalista entre 1945 e 1991 e que venceram a “guerra fria”. De outro lado estão os países que foram periferia do mundo capitalista entre 1945 e 1991 e/ou que foram os perdedores da “guerra fria”.
Caso os EUA derrotem os BRICS, está claro o que aconteceria:
1) menos soberania nacional e mais desigualdade entre os países;
2) menos democracia e mais desigualdade social dentro de cada país.
Mas não está claro o que aconteceria caso os BRICS derrotem os Estados Unidos.
A vitória dos BRICScontra os EUA não garante por si só uma “ordem mundial mais justa”. Para que isto aconteça, será preciso que a classe trabalhadora recupere força nos principais países do mundo.
Por razões similares, os BRICS podem significar uma alternativa ao neoliberalismo (e qual alternativa), a depender de que classe e fração de classe esteja hegemônica no interior dos BRICS.
Independente disto é claro que o apoio dos BRICS (mais precisamente da China e da Rússia) aos países da América Latina e Caribe pode contribuir para enfrentar os altos níveis de dependência frente aos Estados Unidos e seus aliados europeus.
No continente americano, de um lado está o bloco de países que defende uma integração subordinada aos Estados Unidos; de outro lado está o bloco de países que defende a integração autônoma do subcontinente latino-americano (ou seja, sem os Estados Unidos e sem o Canadá). Esquematicamente: Alca versus Celac.
O sucesso da Celac depende da capacidade que os principais países da região tenham de construir um caminho de desenvolvimento autônomo frente aos Estados Unidos. Evidentemente, para isto não basta o apoio dos BRICS. Até porque o problema posto para a América Latina é superar a dependência em geral, não apenas superar a dependência frente aos Estados Unidos e à Europa.
Na América Latina e Caribe, os partidos políticos progressistas e de esquerda adotam diferentes posturas frente aos BRICS.
Há aqueles que consideram os BRICS como uma alternativa global ao imperialismo, ao capitalismo e ao neoliberalismo. De outro lado há quem considere os BRICS outra forma de imperialismo, de capitalismo e de neoliberalismo. Ainda predomina, entretanto, a visão segundo a qual os BRICS cumprem um papel importante no contraponto à hegemonia dos Estados Unidos e podem contribuir para o desenvolvimento autônomo da América Latina.
“Ainda” predomina, porque tanto no Brasil quanto noutros países da região, cresce a influência levítica e temerária. Os ianques agradecem.
*Valter Pomar é professor da UFABC e integrante do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais/GR-RI.

Fonte: PÁTRIA LATINA

sábado, 9 de maio de 2015

Estreou em Moscou uma coalizão sino-russo-iraniana contra a OTAN?



MCIS - IV
A Conferência de Moscou sobre Segurança Internacional, em abril, foi usada como local para comunicar aos EUA e OTAN que outras potências mundiais não os deixarão fazer o que quiserem.

As conversações sobre esforços conjuntos entre China, Índia, Rússia e Irã contra a expansão da OTAN foram ampliadas com os planos para conversações militares tripartites entre Pequim, Moscou e Teerã.
Ministros da Defesa e oficiais militares de todo o mundo reuniram-se em 16 de abril, em Radisson Royal ou Hotel Ukraina, uma das melhores peças de arquitetura soviética em Moscou, conhecida como uma das “Sete Irmãs,” construídas durante o período de Josef Stalin. O evento de dois dias, organizado pelo Ministério da Defesa russo, foi a quarta Conferência Anual de Moscou sobre Segurança Internacional (MCIS).
Autoridades civis e militares de mais de setenta países, incluindo membros da OTAN, compareceram. Quinze ministros da Defesa participaram do evento. No entanto, além da Grécia, demais ministros da Defesa dos países da OTAN não participaram da conferência.
Ao contrário de anos anteriores, os organizadores MCIS não enviaram um convite à Ucrânia. De acordo com o vice-ministro da Defesa russo Anatoly Antonov, “nesta etapa de brutal antagonismo nas informações em relação à crise no sudeste da Ucrânia, decidimos não inflamar a situação na conferência e, nesta fase, tomamos a decisão de não convidar nossos colegas ucranianos para o evento”.
Em uma nota pessoal, como um assunto de interesse, tenho acompanhado esses tipos de conferências há anos, porque declarações importantes sobre política externa e de segurança tendem a sair deles. Este ano eu estava ansioso pelo início desta conferência de segurança em particular. Afora estar ocorrendo em um momento onde a paisagem geopolítica do mundo está mudando rapidamente, eu estava interessado em ver o que a conferência iria produzir, uma vez que me perguntaram em 2014, através da Embaixada da Rússia no Canadá, se eu estava interessado em participar da IV MCIS [na sigla em inglês].
O restante do mundo fala: ouvindo as preocupações de segurança não-euroatlânticas
A conferência de Moscou é o equivalente russo à Conferência de Segurança de Munique, realizada no Hotel Bayerischer Hof, na Alemanha. Há, no entanto, diferenças essenciais entre os dois eventos. Enquanto a Conferência de Segurança de Munique é estabelecida em torno da segurança euroatlântica e vê a segurança global do ponto de vista “atlantista” da OTAN, o MCIS representa uma perspectiva global muito mais ampla e diversificada. Ela representa as preocupações de segurança do restante do mundo não-euroatlântico, particularmente do Oriente Médio e da Ásia-Pacífico. Abrangendo desde Argentina, Índia e Vietnã até o Egito e África do Sul, a conferência no Hotel Ukraina trouxe uma variedade de grandes e pequenos atores à mesa, cujas vozes e interesses de segurança são de uma maneira ou outra minados e ignorados em Munique por líderes dos EUA e da OTAN.
O Ministro da Defesa russo Sergey Shoigu, que detém a patente de um oficial-general equivalente a de um general de quatro estrelas na maioria dos países da OTAN, abriu a conferência. Também falando e sentados juntos a Shoigu estavam o Ministro do Exterior russo Sergey Lavrov e outros funcionários de alto escalão. Todos eles abordaram a guerra multiespectral de Washington, que tem se utilizado para a mudança de regime de revoluções coloridas, como o EuroMaidan na Ucrânia e a Revolução das Rosas na Geórgia. Shoigu citou Venezuela e a Região Administrativa Especial chinesa de Hong Kong como revoluções coloridas falhadas.
O Ministro do Exterior Lavrov lembrou aos participantes que as possibilidades de um perigoso conflito mundial são crescentes, devido à falta de preocupação dos EUA e OTAN pela segurança dos outros e a ausência de diálogo construtivo. Quando estava a  argumentar, Lavrov citou o presidente estadunidense Franklin Roosevelt, dizendo: “Não pode haver meio termo aqui. Teremos de assumir a responsabilidade para a colaboração mundial, ou teremos de arcar com a responsabilidade de outro conflito mundial.” “Eu acredito que eles formularam uma das principais lições do conflito global mais devastador da história: só é possível enfrentar desafios comuns e preservar a paz através do coletivo, de esforços conjuntos baseados no respeito pelos interesses legítimos de todos os parceiros,” explicou sobre o que os líderes mundiais aprenderam com a segunda Guerra Mundial.
Shoigu teve mais de dez reuniões bilaterais com os diferentes ministros da Defesa e chefes que chegaram em Moscou para a MCIS. Durante uma reunião com o Ministro da Defesa sérvio Bratislav Gasic, Shoigu disse que Moscou considera Belgrado um parceiro confiável na cooperação militar.
Coalizão sino-russo-iraniana: pesadelo de Washington
O mito de que a Rússia está internacionalmente isolada foi derrubado novamente durante a conferência, que também resultou em alguns anúncios importantes.
O Ministro da Defesa cazaque Imangali Tasmagambetov e Shoigu anunciaram que a implantação de um sistema conjunto de defesa aéreo cazaque-russo tinha começado. Este não é apenas um indicativo da integração do espaço aéreo da Organização do Tratado de Segurança Coletiva [(OTSC)], mas parte de uma tendência. Foram feitos outros anúncios contra o escudo de defesa antimísseis da OTAN.
A declaração mais vigorosa, no entanto, foi a do Ministro da Defesa iraniano Hussein Dehghan. O General de brigada Deghan disse que o Irã queria China, Índia e Rússia permanecendo unidos na oposição conjunta à expansão para o leste da OTAN e à ameaça para a sua segurança coletiva representada pelo projeto de escudo antimísseis desta aliança.
Durante uma reunião com o Ministro da Defesa chinês Chang Wanquan, Shoigu enfatizou que os laços militares de Moscou com Pequim são a sua “prioridade absoluta”. Em outra reunião bilateral os chefes de defesa do Irã e da Rússia confirmaram que a sua cooperação será parte dos pilares de uma nova ordem multipolar e que Moscou e Teerã estavam em harmonia na sua abordagem estratégica em relação aos EUA.
Após Dehghan e a delegação iraniana se reunirem com Shoigu e os seus homólogos russos, foi anunciado que uma cimeira tripartite pode ocorrer entre Pequim, Moscou e Teerã. A idéia foi posteriormente endossada pela delegação chinesa.
O ambiente geopolítico está mudando e não é nada simpático aos interesses estadunidenses. Não somente uma União Econômica Eurasiana foi formada pela Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão e Rússia no coração pós-soviético da Eurásia, mas Pequim, Moscou e Teerã – a Tríplice Entente Euroasiática – estão em um longo processo de aproximação política, estratégica, econômica, diplomática e militar.
A harmonia e a integração eurasiana desafia a posição dos Estados Unidos em seu “quintal ocidental” e em sua cabeça-de-ponte na Europa e ainda orienta aliados dos EUA a agir de forma mais independente. Este é um dos temas centrais exploradas por meu livro A Globalização da OTAN.
O ex-mandachuva de segurança dos EUA, Zbigniew Brzezinski, advertiu as elites estadunidenses contra a formação de uma eurasiana “coalizão que poderia, eventualmente, procurar contestar a primazia dos Estados Unidos.” De acordo com Brzezinski tal aliança  eurasiana surgiria como uma “coalizão sino-russo-iraniana” com Pequim como seu ponto focal.
“Para os estrategistas chineses, confrontando a coalizão trilateral da América, Europa e do Japão, o mais eficaz contrapoder geopolítico poderia muito bem ser tentar e moldar uma tríplice aliança própria, ligando China com o Irã na região do Golfo Pérsico/Oriente Médio e com a Rússia na área da antiga União Soviética”, Brzezinski adverte.
“Ao avaliar as futuras opções da China, deve-se considerar também a possibilidade de que uma China economicamente bem sucedida e politicamente autoconfiante – mas que se sente excluída do sistema global e que decide se tornar o advogado e líder dos Estados carentes do mundo – pode decidir apresentar não só uma doutrina articulada, mas também um poderoso desafio geopolítico para o mundo trilateral dominante”, explica.
Mais ou menos, essa é a trilha que os chineses estão a seguir. O Ministro Wanquan categoricamente disse no MCIS que era necessária uma ordem mundial justa.
A ameaça para os EUA é que uma coalizão sino-russo-iraniana poderia, nas palavras do próprio Brzezinski, “ser um ímã poderoso para outros Estados insatisfeitos com o status quo.”
Contrapondo o escudo antimísseis dos EUA e OTAN na Eurásia
Uma nova “Cortina de Ferro” está sendo erigida por Washington em torno da China, Irã, Rússia e aliados através da infra-estrutura de mísseis dos EUA e da OTAN. Esta rede de mísseis é ofensiva e não defensiva em intenção e motivação.
A meta do Pentágono é neutralizar quaisquer respostas defensivas da Rússia e outras potências da Eurásia a um ataque estadunidense com mísseis balísticos, que poderia incluir um ataque nuclear inicial. Washington não quer permitir que a Rússia ou  outros tenham a capacidade de um segundo ataque ou, em outras palavras, ter a capacidade de responder a um ataque pelo Pentágono.
Em 2011, noticiou-se que o Vice-Primeiro-Ministro russo, Dmitry Rogozin, então enviado de Moscou para a OTAN, estaria visitando Teerã para falar sobre o projeto de escudo antimísseis da aliança atlântica. Diversas notícias foram publicadas, inclusive pelo Tehran Times, alegando que os governos da Rússia, Irã e China estavam a planejar a criação de um escudo antimísseis comum contra os EUA e a OTAN. Rogozin, no entanto, refutou as notícias. Ele disse que a defesa de mísseis foi debatida entre o Kremlin e seus aliados militares da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC).
A idéia de cooperação em defesa entre a China, Irã e Rússia contra o escudo antimísseis da OTAN manteve-se à tona desde 2011. Desde então, o Irã se torna mais próximo de se converter em observador na OTSC, tal como já são o Afeganistão e a Sérvia. Pequim, Moscou e Teerã se aproximaram todos também devido a questões como a Síria, o EuroMaidan e o “Pivô para a Ásia” do Pentágono. Deghan apela a uma abordagem coletiva de China, Índia, Irã e Rússia contra o escudo antimísseis e a expansão da OTAN juntamente com os anúncios nos MCIS sobre conversações militares tripartites entre China, Irã e Rússia apontando nesse sentido também.
Os sistemas de defesa aérea S-300 e S-400 da Rússia estão a ser implantados em toda a Eurásia, da Armênia e Bielorrússia a Kamchatka como parte de um contramovimento de última geração à nova “Cortina de Ferro”. Estes sistemas de defesa aérea fazem os objetivos de Washington de neutralizar a possibilidade de uma reação ou segundo ataque muito mais difícil.
Mesmo responsáveis da OTAN e do Pentágono, que se referiram tanto ao S-300 como ao sistema SA-20, admitem isso. “Nós estudamos e treinamos para combater isso há anos. Apesar de não termos medo dele, nós respeitamos o S-300 enquanto o que é: um sistema de mísseis muito móvel, preciso e letal”, escreveu o Coronel da Força Aérea dos EUA Clint Hinote para o Conselho de Relações Exteriorescom sede em Washington.
Muito embora se tenha especulado que a venda dos S-300 ao Irã marcaria o início de uma bonança de vendas internacionais de armas em Teerã, como resultado das conversações de Lausanne, e que Moscou está tentando ter uma vantagem competitiva em um mercado iraniano que se reabre, na realidade a situação e as motivações são muito diferentes. Mesmo que Teerã compre diferentes quantidades de equipamento militar da Rússia e de outras fontes estrangeiras, tem uma política de auto-suficiência militar e fabrica principalmente suas próprias armas. Toda uma série de equipamentos militares – que vão desde tanques, mísseis, aviões de combate, detectores de radar, rifles e drones a helicópteros, torpedos, morteiros, navios de guerra e submarinos – são feitos domesticamente no Irã. As forças armadas iranianas ainda alegam que seu sistema de defesa aérea Bavar-373 é mais ou menos o equivalente ao S-300.
A entrega de Moscou dos S-300 para Teerã é mais do que apenas um negócio despretensioso. Destina-se a cimentar a cooperação militar russo-iraniana e de reforçar a cooperação eurasiana contra o cerco pelo escudo antimísseis de Washington. É mais um passo para a criação de uma rede eurasiana de defesa aérea contra a ameaça de mísseis colocada pelos EUA e a OTAN contra nações que se atrevem a não se ajoelhar à Washington.

Mahdi Darius Nazemroaya é cientista social, escritor premiado, colunista e pesquisador. Suas obras são reconhecidas internacionalmente em uma ampla série de publicações e foram traduzidas para mais de vinte idiomas, incluindo alemão, árabe, italiano, russo, turco, espanhol, português, chinês, coreano, polonês, armênio, persa, holandês e romeno. Seu trabalho em ciências geopolíticas e estudos estratégicos tem sido usado por várias instituições acadêmicas e de defesa de teses em universidades e escolas preparatórias de oficiais militares. É convidado freqüente em redes internacionais de notícias como analista de geopolítica e especialista em Oriente Médio.
Tradução do inglês de Carlos Serrano Ferreira.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês na RT, em 23 de abril de 2015, tendo sido publicada sua tradução em português em Europa Hoje. A reprodução da tradução ao português publicada aqui é livre para fins não comerciais, contanto que se cite a fonte da mesma e o tradutor, bem como a fonte original.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Wallerstein: Grécia, ditadura financeira e caos


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Em dias, crise entre Atenas e seus credores recrudescerá. Fundamentalistas do mercado exigem obediência total a dogma da dívida. Podem desencadear o imprevisível

Por Immanuel Wallerstein | Tradução Inês Castilho
De onde quer que se olhe, o que ocorre hoje na Grécia, ou, antes, entre a Grécia e países e instituições estrangeiras, é um melodrama – um melodrama de proporções épicas. Com melodrama queremos dizer encontro dramático deliberadamente exagerado pelos participantes. Eles fazem ameaças, implícitas e às vezes explícitas. Definem publicamente linhas que não podem ser cruzadas nas negociações. Fazem previsões terríveis sobre o que acontecerá se suas recomendações não forem seguidas. Melodramas aumentam os fatos e insistem em dicotomias morais.
Num melodrama, os participantes fazem praticamente tudo o que podem para culpar os outros pelas consequências negativas do passado, do presente e do futuro. A única coisa que eles não fazem é confessar suas prioridades verdadeiras, e como essas prioridades são beneficiadas por sua participação no melodrama, ao invés de entrar em discussões sóbrias destinadas a alguma resolução das diferenças.
Quando e como começou esse encontro tão particular? A data inicial é, precisamente, o que está sob disputa. Há na verdade ao menos três questões envolvidas na discussão: o presente e o futuro da Grécia, o presente e o futuro da zona do euro, e o presente e o futuro da União Europeia. Nem todos os participantes estão interessados nos três assuntos. E aqueles que estão interessados têm visões diferentes entre si.
Comecemos pela Grécia. Nos anos que se seguiram a 1945, a economia grega parecia prosperar, assim como a de um grande número de países. O fenômeno foi denominado “milagre econômico grego”. Após os anos 1970, a Grécia teve um desempenho pior, assim como, de novo, a maioria dos países. Apesar disso, até a chamada “grande recessão” de 2008, havia aparentemente poucos problemas para o governo grego.
A Grécia foi admitida na zona do euro em 2000, supostamente por ter alcançado as exigências formais para isso. Quando, depois de 2008, a dívida do governo aumentou muito e o país passou a correr o risco de não poder pagá-la, foi-lhe oferecido um “pacote de resgate” por instituições estrangeiras, para que o governo fosse capaz de pagar suas dívidas. Houve, de fato, sete desses pacotes entre 2010 e 2013.
O preço desses empréstimos costuma ser chamado de “austeridade”. Na verdade isso significou que, exatamente quando o alto índice de desemprego se tornava ainda mais alto, a rede proteção social começou a desaparecer. O governo grego prometeu reduzir despesas de várias maneiras – o número de servidores públicos, o valor das aposentadorias, os benefícios de saúde e de desemprego. Além disso, exigiu-se que o governo privatizasse várias estruturas governamentais. Ao vender seus ativos, o governo obteve, assim, uma única entrada de recursos — mas isso levou as empresas e instituições privatizadas a praticar ainda mais “austeridade”. Todas essas medidas deveriam ser supervisionados de perto por uma tríade de instituições — Fundo Monetário Internacional, União Europeia e Banco Central Europeu.
O resultado final foi que a grande maioria da população teve seu nível de vida drasticamente reduzido para que os bancos da Grécia não quebrassem. Dado que esses bancos eram, na maior parte dos casos, propriedade parcial de outros bancos europeus (especialmente da Alemanha e da Áustria), as medidas de “austeridade” serviram aos interesses desses bancos europeus.
Um movimento político anti-“austeridade” denominado Syriza emergiu na Grécia e finalmente, em 2014, chegou ao governo. O programa desse partido pretendia desfazer ou reverter as medidas de austeridade, rejeitar o papel da tríade na supervisão da vida política da Grécia, mas ainda manter-se como membro da zona do euro. Esse programa mostrou-se extremamente difícil de realizar, já o país necessita de mais um empréstimo (ou redução dos pagamentos da dívida) de modo a minimizar, no curtíssimo prazo, o sofrimento da população. Embora o primeiro ministro do Syriza, Alexis Tsipras, mostre-se confiante sobre a possibilidade de conseguir um acordo provisório antes do próximo vencimento, em meados de maio, a maioria dos analistas está cética.
Se não chegarem a um acordo, acontecerá a chamada Grexit (termo em inglês cunhado para significar uma saída da Grécia da zona do euro). A questão que o mundo discute é que significado teria isso. Há três visões: uma catástrofe para toda a economia mundial (especialmente a União Europeia); um evento relativamente menor (com exceção, é claro, da Grécia); e incerteza total sobre o que acontecerá (ou como o “mercado” irá responder).
Vários atores (e principalmente o ministro das finanças da Alemanha, Wolfgang Schaüble) insistem em que uma Grexit seria bastante tolerável para a zona do euro. Essas pessoas estão, antes de mais nada, preocupadas com uma coisa – que o princípio de pagamento de dívidas seja prioridade imperativa para a Grécia e todos os outros países do mundo. Outros atores, que priorizam a sobrevivência da eurozona, preocupam-se com uma Grexit. A personagem mais notável deste grupo é a chanceler alemã Angela Merkel. Ela teme que a saída da Grécia da zona do euro não leve apenas à desintegração da eurozona, mas também, em seguida, a um colapso da União Europeia. Por isso, Merkel está disposta considerar algumas formas de acomodação ao acordo oferecido pelo Syriza.
A terceira visão – a de incerteza total – é contudo a correta. É a única que leva em conta o fato de que o mundo está numa bifurcação caótica, em que não é possível prever como o “mercado” ou qualquer outra instituição irá reagir. Dado que a maioria dos investidores está consumida pela incerteza, suas reações levam a oscilações selvagens e frequentes congelamentos. Trata-se portanto de escolher prioridades. A do Syriza é minimizar a dor da grande maioria da população. Esta me parece uma prioridade muito mais admirável do que preservar a santidade do pagamento da dívida.
Claro, o Syriza está fazendo malabarismos com uma série de escolhas de curto prazo, a fim de realizar sua prioridade. Pode ser que venha a fazer julgamentos equivocados ou, pior ainda, sérias concessões que neguem suas promessas eleitorais. Os próximos dois meses irão dizer.

http://outraspalavras.net/capa/wallerstein-grecia-ditadura-financeira-e-caos-3/

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O novo casamento PSB/PPS



Por Valdir Pereira - 01/05/2015- 17,27

Intuitivamente, enxergando a proximidade da Reforma Política, os partidos nanicos se movimentam a caça de parceria ou junção para assegurar sua permanência no cenário político nacional.
Partidos sem musculatura, ideologicamente indefinidos, tentam construir acordos de fusão em torno de pontos mínimos que conciliem suas posturas políticas ante o governo estabelecido,
O PSB, órfão de uma liderança política de respeito, como foi Eduardo Campos, tragicamente morto num acidente inesperado nas vesperas das eleições. Orfãos, de seu grande lider, com uma bancada reduzida no cenário da Câmara e do Senado, para flutuar buscam uma tábua de salvação.
Meio que perdidos, na tentativa de alçar voos mais altos numa aliança capenga e ilusória com Marina: rompe com o governo iludidos  em devaneios  inspirados num quadro político caótico, na miopia de suas visões políticas deformadas, enxergam na conjuntura política um campo fértil para alçar vôos   mais altos com a candidatura de Eduardo Campos; rompeu uma aliança histórica com o PT, colocando-se como alternativa política de centro esquerda para o país, sem um discurso contundente, todavia e sem uma vice confiável.
A tragédia sepultou os sonhos de poder. Sua sucessora, Marina Silva, ficou pelo caminho com os olhos e mentes voltados a um projeto político fracassado.
Oportunistas políticos de ultima hora, esvaziados e com um discurso vazio de conteúdo; como aves de rapina se somam ao projeto do PSB, entre eles o PPS, oferecendo seu apoio. O PSB aceitou por questões táticas essa aliança, conquistando mais uns minutos em seu horário eleitoral gratuito. Assim, de forma pegajosa, admite-se o PPS como parceiro.
Hoje, com o novo quadro político, onde escândalos de corrupção são investigados na operação lava-jato em que políticos de vários partidos estão envolvidos, inclusive o presidente da Câmara e do Senado, o temor é generalizado.
O financiamento privado tende a cair.  A Reforma política deve introduzir a clausula de barreira, extinguindo vários partidos que, diante do fato, buscam sua salvação fundindo-se com outros.
Neste panorama as fusões serão inevitáveis. Fusões haverão tendo como causa a sobrevivência, para uns. Outras haverão por similaridade política ou ideológica.
No caso da fusão PSB/PPS, se encontra uma grande dicotomia. Não há o mínimo de similaridades entre os dois partidos. O PPS, até ontem foi um partido caudatário do PSDB e do DEM, conjugando uma oposição raivosa ao governo e ao PT, defendendo inclusive o impeachment da presidenta, a qualquer custo.
O PSB, uma oposição mais moderada, rejeitando  a proposta do impeachment, sem que houvesse motivação pertinente ou um projeto político salvador.
Como sempre, Roberto Freire, com suas artimanhas, irá buscar guarida no PSDB. Desta vez, Alkymim, com melhor trânsito, governador eleito com bôa votação no reduto conservador paulista: será o homem da vez?
Pelo histórico de Roberto Freire, na política recente, sua ação política não é confiável. Tanto do ponto de vista político, como suspeição moral.
Em recente artigo de Sebastião Nery de 17 de setembro de 2013, denuncia a atitude ambígua do ex-lider comunista.
 Em 1970, enquanto as lideranças do partido eram presas e exterminadas pela ditadura militar, o  mais sanguinário dos ditadores General Médici, em pleno AI-5, nomeou procurador do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) o jovem advogado Roberto João Pereira Freire, de 28 anos.
Será que os comandantes do IV Exército e os generais Golbery (governo Castelo. Médici ), (governo Costa e Silva) e Fontoura (governo Médici, que chefiaram o SNI de 64 a 74), eram tão debilóides a ponto de nomearem procurador do INCRA, o órgão nacional encarregado de impedir a reforma agrária, exatamente um conhecido dirigente universitário comunista e aliado do heróico Francisco Julião nas revolucionárias Ligas Camponesas?
Não estou aqui levantando suspeita sobre ninguém. Somente a tese, de que um político inconstante e que nos últimos anos tem praticado a política suicida temerária da oposição, tenha mudado repentinamente e se dispor dialogar com o governo nas matérias de interesse nacional. Ou como é de seu costume, armar conspirações, ou tramar para implodir candidaturas que não são do agrado do PSDB e seus caciques.
Será que há tempo de remissão ou auto-critica, ou vai pendurar as gastas chuteiras?
Felicidades ao novo casamento.