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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Líbia, em permanente queda livre



Leandro Albani:
Tradução: Valter Xéu
O país tinha as melhores condições de vida na África e agora está em uma crise terminal, onde os grupos armados disputa o poder a ferro e fogo. A Líbia vive em uma espiral de violência causada por interferência estrangeira e má gestão.
Vácuo de poder, confusão, crise institucional e política, profunda fragmentação na sociedade. Qual destas definições deve ser usado para descrever agora a Líbia? A verdade, é que apesar de poucas informações divulgadas sobre o país norte-Africano, é que o território líbio se assemelha a uma área em que os conflitos tribais e políticos aumentam dia a dia desde a derrubada sem julgamento e o assassinato de Muammar Al Kaddafi em 2011, após oito meses de bombardeio contínuo por forças da OTAN comandada pelo Ocidente.
Os grupos armados que transformaram a Líbia em um campo de batalha, e que os EUA e seus aliados forneceram armas e dinheiro e que foram mostrado ao mundo como "adversários" em busca da liberdade, agora encabeçam sangrentas lutas internas pelo poder que têm mais a ver com o negócio do petróleo do que o bem-estar da população.
Mercenários, radicais islâmicos, empresários, políticos transformaram e uma variedade de oportunistas tentando fazer pé em um território devastado, em que o número de mortes que ocorreram através dos bombardeios da OTAN e as operações realizadas pelos grupos violentos ainda não se sabe exatamente.
Um exemplo perfeito do que acontece na Líbia ocorreu na semana passada onde quase oitenta mortos foram contabilizados após dois ataques na cidade de Benghazi e Trípoli, a capital. O autodenominado Exército Nacional Líbio (ENL), liderado pelo ex-general Khalifa Haftar atacou em Benghazi sede de milícias islâmicas Brigada 17 de fevereiro e Ansar El Sharia. Haftar militar que desertou em 80 para os Estados Unidos, disse que as operações contaram com aviões de combate tentando libertar a Líbia da "praga islâmica”. No ataque, pelo menos 80 pessoas foram mortas e 150 ficaram feridas.
Haftar era um dos ex-militares que desde o exterior apoiou as ações violentas que terminaram com Gaddafi. É visto pela comunidade internacional como um agente da CIA, o ex-general organizou sua própria milícia, como indicado no livro "Manipulações africanas", publicado pelo Le Monde Diplomatique. Proveniente da tribo Farjani, tribo, Haftar retornou à Líbia em 2011 e foi classificado como o terceiro no comando das Forças Armadas. O ex-soldado caído em desgraça depois de que em fevereiro 2014 anunciou na televisão que o governo provisório havia sido dissolvido, algo negado pelo então primeiro-ministro, Ali Ziedan, que descreveu o anúncio como "ridículo".
Enquanto isso, no domingo (18), os grupos sob o comando de Haftar entraram com veículos blindados em Trípoli e atacaram o Congresso Geral, (Parlamento), órgão que governa de fato o país, devido à falta de consenso para manter os políticos eleitos como presidente e primeiro-ministro.
Após o ataque, o ENL anunciou que vai formar um conselho constitucional para elaborar uma nova constituição. Nesta situação, o primeiro-ministro demissionário Abdallah Al Thini, disse que o ataque foi repelido e a cidade está sob controle. Apesar destas declarações, ainda é desconhecido o paradeiro do presidente do Congresso, Abu Sahmain Nuri, que pode estar prisioneiro dos grupos que disputam o poder.
De acordo com o que a mídia noticiou ENL – “Exercito Nacional da Líbia” rejeitou a nomeação de Ahmed Maitiiq como primeiro-ministro, apoiado por legisladores da Irmandade Muçulmana. As tropas de Haftar também exigiram que o Parlamento cedesse o poder ao Conselho Constitucional, cujos membros até agora ninguém conhece.
Ainda no mesmo domingo, o ministro líbio da Justiça Saleh Al Mergani revelou que houve confrontos armados que deixaram vários mortos em Trípoli. Por sua vez, foram relatados ataques contra o Conselho Militar da Líbia, localizada a cerca de sete quilômetros do Congresso Geral.
Poucos dias antes dos ataques, o Gabinete do Procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) apresentou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas um relatório confirmando que existem milhares de pessoas presas na Líbia sem nenhum processo judicial. A maioria dos presos são seguidores e partidários de Gaddafi. Para isso, ele acrescentou que até agora nenhum membro da milícia ou do novo governo foi levado à justiça. O relatório também alertou que permanecem sem resposta alegações de crimes, tais como a limpeza étnica de pessoas de pele negra, cometidos na região de Misrata por grupos que derrubaram Kaddafi.
Em suma, a crise interna na Líbia, que aumenta com o passar do tempo, é coberta por um manto de silêncio e impunidade. Você tem que pedir aos Estados Unidos, Nações Unidas e aos países que promoveram a derrubada de Kaddafi, em que momento os líbios receberão a "democracia" e "liberdade" pela qual esta nação foi bombardeada e dizimada.

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