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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Comunicado importante de Valdir Pereira





Aos amigos e amigas deste blog. Lamento informar, que em razão de uma retinopatia severa, motivada pelo agravamento da diabetes, da qual sou portador, minha visão se encontra altamente limitada, me impedindo de fazer as postagens ou escrever textos que, com muito prazer, os fazia com frequência em meu blog Autodinamismo.

Em abril, devo fazer uma cirurgia na tentativa de corrigir esta anomalia: se exitosa, a cirurgia, poderei restabelecer uma parte importante de minha visão, caso contrario, perderei totalmente a visão do olho esquerdo me restando a limitada visão do olho direito, que também esta comprometido, embora numa situação menos severa, que passará proximamente por uma nova cirurgia.

Esta situação tem me obrigado a estar ausente em meu blog e também no Facebook.

Quando possível, com grande esforço, farei eventualmente e esporadicamente alguma postagem de algum tema de relevância, no meu entender. Isso só será possível com a ajuda de minha filha que, até abril, serão  os meus  dedos e os meus olhos nesta página. Caso tudo de certo na ação cirúrgica, que será realizada no HC de Ribeirão Preto, no dia 10 de abril , estarei de volta com todo entusiasmo de alguém que acredita num futuro melhor para nosso povo e que, enquanto tiver forças, estará lutando por isso: uma nova sociedade sem a exploração do homem pelo homem, uma sociedade solidária.

31/01/2013

Valdir Pereira

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Síria no coração do conflito no Oriente Médio

       

  
Imagen activaHavana (Prensa Latina) Sem os recursos naturais da Líbia, mas no coração do conflito no Oriente Médio, a Síria é atraente para as nações ocidentais que tentam desestabilizar o país, avaliou nesta capital a jornalista libanesa Ogarite Dandache.
Jovem repórter com experiência em coberturas na região, considerou em entrevista exclusiva à Prensa Latina que além do interesse pelas riquezas desses territórios árabes, os Estados Unidos e os países europeus envolvidos querem a Síria e a Líbia por sua posição geográfica e pelas relações internacionais.Desde o início dos distúrbios nestas terras árabes, Dandache visita-as frequentemente e nos últimos meses permaneceu nas cidades sírias de Alepo e Damasco, unida ao exército da nação para cobrir as batalhas.

Apesar de o conflito na Síria se estender por dois anos, o povo ainda resiste, assegurou, eles continuam lutando numa disputa que diz respeito a todos porque pode mudar o mundo.

A jornalista explicou que a resistência síria não só enfrenta a invasão dos Estados Unidos, governo que envia seus aviões e helicópteros ao Oriente Médio, mas que nessa luta também defendem seus pontos de vista políticos e sua ideologia.

Por outro lado, assinalou que a oposição é integrada por pessoas vindas de várias partes do mundo: "é gente que mata sem se importar, e não estão interessados no presidente, Bashar al Assad, nem nada disso, vieram pela mentalidade de matar aos que não pensam igual a eles".

Não obstante, alertou, nessa nação as coisas são diferentes ao sucedido na Líbia, já que os sírios são mais fortes e sabem como podem jogar este jogo.

Na Síria estão conscientes do que está passando, continuou, e ao mesmo tempo os países vizinhos sabem que se ocorre algo ali, os prejudicará também de alguma maneira.

"Então, eles não estão lutando só por seu país, mas por toda a região, isso nos ajudará a todos a resistir e a ganhar nossas causas".

A jornalista da rede televisiva Almayadeen também esteve várias vezes na Líbia para ser testemunha das contendas armadas e "comprovar por mim mesma que eram os supostos rebeldes".

Agregou que ao chegar percebeu que os acontecimentos não tinham nada a ver com rebeldes nem com revolução, o que interessava era o petróleo, o gás, isto é, os recursos naturais do país.

"Numa ocasião visitei uma pequena cidade, Ras Lanuf, a qual estava muito conturbada porque nela havia petróleo, e esse lugar era para eles -a oposição- mais importante até que Bengasi, por exemplo, a segunda maior cidade do país".

Dessas experiências, Dandache concluiu que há algo maior nos planos e que inclui toda a região, não só a Líbia ou a Síria".

JORNALISMO, MINHA FORMA DE SALVAR O MEU POVO

Como profissional do jornalismo, Ogarite Dandache pôde se dedicar a reportar espetáculos, eventos científicos, eventos esportivos ou processos eleitorais; no entanto sua decisão foi outra: cobrir a guerra.

De acordo com suas palavras, para ela há princípios acima do perigo que significa ir ao campo de batalha armada com câmeras, gravadores e microfones.

"Dispararam no primeiro câmera que levei, e mesmo que não lhe tenha causado muito dano, porque levava um jaleco antibalas, a impressão foi forte. Eu sei que é perigoso, mas é minha forma de lutar por minha causa", assegurou.

Com a naturalidade de quem fala sobre algo habitual, ela assume que pode morrer de muitas maneiras.

"Posso dirigir por qualquer lugar e ter um acidente. A morte é normal, algo que devemos aceitar porque vai chegar em algum momento, e para mim vale a pena morrer fazendo meu trabalho e lutando para salvar meu povo, por minha independência, por minha dignidade. É meu dever", afirmou.

Na opinião da libanesa, o jornalismo é hoje uma arma principal, uma das mais valiosas nas guerras contemporâneas, e considera necessário usar contra o inimigo para desmascará-lo.

A isso se soma, continuou, que muitas pessoas no mundo não sabem nada sobre as causas no Oriente Médio; eu tenho que mostrar ao mundo nossas lutas e sobretudo nosso direito de lutar.

"Nós lutamos para defender o direito à independência, por nossa dignidade, de usar os recursos naturais que estão em nossos territórios em benefício de nossos povos", apontou.

No entanto, para fazer seu trabalho teve que ultrapassar obstáculos como a indecisão por parte dos que a dirigem na rede televisiva.

"Foi duro para eles me deixarem ir sem saber se ia regressar. Mas quando fiz meus primeiros trabalhos na Líbia, Iêmen e Egito, começaram a confiar e agora me deixam livre para ir onde eu quiser, porque sabem que trarei muito trabalho, e acho que bom trabalho", assinalou.

No caso de minha família, agrega, preocupam-se o tempo todo, "às vezes estou em regiões onde não há telefone, nem Internet e é realmente perigoso. Mas sei que no fundo estão orgulhosos".

QUANDO ME PROPUSERAM VIR A CUBA DISSE: SIM, EU VOU

Ainda que a rotina de trabalho desta jornalista centre-se na área de conflitos do Oriente Médio, ela decidiu fazer um alto para vir a Cuba.

"Há vezes em que meu diretor me manda a lugares e noutras eu decido por minha conta. Em ocasiões pediram-me para cobrir coisas e tenho dito que não porque acho que outros podem fazê-lo, mas quando me propuseram vir a Cuba disse: Sim, eu vou".

Entre as motivações da visita, destacou que "quero compreender como por cinquenta anos, vocês têm resistido contra o maior império que já existiu".

Vim porque considero-o parte de meu dever, afirma, porque o que vocês estão fazendo aqui é parte da nossa guerra e nossa resistência contra o inimigo. É minha primeira visita, mas acho que não será a última.

*Jornalista da redação Nacional da Prensa Latina.

Mali: vozes de discórdia no meio da reconquista

 
 
  
Imagen activaHavana (Prensa Latina) A intervenção de tropas francesas no Mali abre um novo capítulo da presença europeia na África que, para especialistas, é a mesma fórmula aplicada pelas ex-metrópoles durante séculos nas antigas colônias para saquear suas riquezas naturais.
Esta nova aventura militar, justificada agora por Paris com as chamadas "ajuda humanitária" e "guerra contra o terrorismo", começa a ter opositores apesar da complacência com a qual foi aceita pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, pela União Africana e por parte da comunidade mundial.

O próprio secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou o tema de alta prioridade devido à "ameaça dos insurgentes armados" e parabenizou a decisão do mandatário francês, Francois Hollande, de enviar tropas a território malinês contra o avanço dos insurgentes no sul.

Ban Ki-moon afirmou que essa ajuda deve estar guiada pelas orientações da ONU para cumprir com os objetivos militares de restabelecer a ordem constitucional e a legitimidade política do Mali.

Esta intervenção reforça a doutrina ocidental de guerra liderada pelos Estados Unidos no mundo e poderia ser o pretexto das antigas metrópoles para reiniciar a reconquista da África, em um momento no qual a Europa está pressionada pela crise econômica.

As fontes estimam que esse país é vítima de uma tentativa dos poderes ocidentais de "intensificar seu domínio sobre os recursos e economias" africanas, cheio de cobiçadas riquezas naturais como ouro, petróleo, diamantes e o estratégico coltan.

Se a Europa conseguir reforçar as capacidades de reconquista no norte malinês mediante essa operação armada, então "será uma conquista real da defesa europeia", consideram fontes do chamado Velho Continente.

VOZES DE DISCÃ"RDIA

Enquanto os Estados Unidos, o Canadá e a Europa apoiam politicamente e com logística a intervenção, que já vai por sua segunda semana e poderia se estender no tempo, aumentam os questionamentos e críticas.

A presença de dois mil 300 militares franceses e a possibilidade de que essa cifra se duplique nos próximos dias revela que a campanha não anda muito bem ou que sua verdadeira intenção, apesar das declarações de autoridades e funcionários públicos franceses, difere das palavras.

As crescentes críticas provém da própria França, onde políticos questionaram a operação militar, iniciada de maneira inesperada por Hollande, ainda que de certa maneira já se via no horizonte mais distante.

Jean-Luc Mélenchon, chefe da Frente de Esquerda, arremeteu contra a decisão do governo ao dizer que "estamos no Mali porque não podemos permitir que outros países da região, e portanto a extração de urânio da qual dependem as centrais francesas, corram perigo".

Sublinhou que o objetivo de Hollande é defender os interesses de Paris na África, especialmete na Nigéria, rica em urânio.

Mélenchon, ex-candidato à presidência francesa, defendeu o "direito a saber a verdade" sobre uma guerra que custa dois milhões de euros por dia em um período de austeridade.

Questionou também o fato da intervenção ter sido ordenada sem consultar antes o Governo e o Parlamento, em uma decisão que, segundo ele, "tem muitos pontos obscuros".

O ex-premiê conservador Alain Juppé, da União por um Movimento Popular, disse ter a impressão de que a França não poderá cumprir sozinha com a tarefa de intervenção.

"Queria que a posição francesa fosse esclarecida", disse Juppé, já que "tenho a impressão de que hoje está dedicada a uma reconquista geral do território".

Outra voz de discórdia foi a de Noel Mamore, do partido Europa Ecologia Os Verdes, ao afirmar que a operação Serval (assim chamada na França) é uma manobra neocolonialista.

As principais críticas no país se referem à falta de preparação da operação militar, à possibilidade de estancamento em um conflito de longa duração ou à violação do que foi estabelecido inicialmente pelo Conselho de Segurança.

Para o analista Juan Luis González, os interesses geopolíticos das antigas metrópoles da África são a principal razão da chegada de tropas francesas a Mali, onde depois chegaram tropas da Espanha, Alemanha, Bélgica, Itália, Reino Unido e outros estados europeus.

Considera que o verdadeiro objetivo da presença francesa neste país africano em sua luta contra os islâmicos é controlar seus recursos, em um operativo que qualificou de "cortina de fumaça".

Há um montão de minérios a serem explorados em território malinês, afirmou.

O embaixador de Angola na Etiópia e na União Africana, Arcanjo do Nascimento, afirmou que a fragilidade das instituições nos Estados africanos constitui a base de numerosos conflitos no continente.

Outras causas desses problemas são também a polarização social e a ingerência estrangeira em assuntos internos dos países africanos, sublinhou, e fez um chamado a que soluções africanas sejam apresentadas a estas problemáticas.

Forças progressistas e nacionalistas, entre elas a Coordenadora de Organizações Patrióticas de Mali, se opuseram à intervenção, e o Partido Argelino para a Democracia e o Socialismo considerou que a presença de um contingente estrangeiro armado pode funcionar como uma cortina que beneficia potências colonialistas, enquanto promove conflitos entre os africanos.

AJUDA HUMANITÁRIA OU RECONQUISTA DA ÁFRICA?

Olhar para os enormes recursos minerais e energéticos existentes nesse país africano bastaria para descobrir os verdadeiros motivos da França e seus aliados por trás desta intervenção armada.

O Estado africano é o terceiro maior produtor de ouro do continente, com oito minas em exploração, e é famoso por isso desde a época do grande império, apontam os pesquisadores de Global Research.

Além disso, dispõe de urânio, indispensável para o funcionamento das centrais nucleares; e recentemente foram descobertas novas jazidas de urânio em várias províncias, principalmente as de Gao e Kidal, ao norte, ocupadas por povos islâmicos desde maio de 2012.

Mali também pode ser convertido em fornecedor de petróleo e gás para a Europa, e conta com reservas comprovadas de diamante, ferro, bauxita e manganês (estes últimos ainda não explorado), cobre, gesso, mármore e outros minérios, segundo fonte citada.

A intervenção militar francesa no Mali coloca em perigo as enormes riquezas patrimoniais na província de Tumbuctú, também no norte, incluída desde 1988 na lista de Patrimônios Históricos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Construída no meio do deserto e rodeada de lendas, esta cidade foi fundada entre os séculos XI e XII por tribos nômades berberes ou tuaregues procedentes do norte, alberga importantes valores culturais, e chegou a ser um importante centro de comércio e próspera cidade no século XVI, qualificado como sua era de ouro.

O fato de extremistas islâmicos terem destruído alguns monumentos e santuários que consideraram ofensivos para sua religião gerou uma onda de reações internacionais, que a França aproveitou a favor de suas pretensões, materializadas agora com a intervenção em curso.

*Chefe da redação África e Oriente Médio da Prensa Latina.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A superação do anti-stalinismo


 

 

 

Uma importante condição para a reconstrução do movimento comunista enquanto movimento marxista-leninista unido

(1994)

 

Para os marxistas não é de forma nenhuma surpresa que o fim da União Soviética e dos estados europeus socialistas tenha trazido consigo o regresso da guerra à Europa e o início de uma ofensiva geral do capital contra a classe trabalhadora e todo o povo trabalhador.
Esta brutal ofensiva do capital só pode ser rechaçada com uma defesa conjunta, unitária, de todos os atingidos. Só por isto é urgentemente necessária a reconstrução de um movimento comunista unido, já para não falar da tarefa de acabar com o domínio do imperialismo. Infelizmente, porém, o movimento comunista ainda está muito longe de ser um movimento unido.

A mim, pelo menos, parece-me que o principal obstáculo à reconstrução da unidade dos comunistas reside menos nas diferenças de opinião sobre as tarefas do presente, do que nas opiniões contraditórias sobre a avaliação do caráter e da política dos países socialistas, em especial da União Soviética, no passado.

Alguns estão convictos de que a URSS e os outros países socialistas da Europa (excluindo a Albânia) não eram países socialistas desde o XX Congresso, mas sim países capitalistas de Estado e consideram como revisionistas todos os que não concordam com este ponto de vista, com os quais não pode haver nada em comum.

Outros – como lhes tem sido contado desde o XX Congresso e desde Gorbatchov com crescente intensidade – veem em Stálin o destruidor do socialismo, por isso declaram que com os «stalinistas» não pode haver nada em comum.

Nesta posição encontra-se a maior parte das organizações que se formaram a partir das ruínas resultantes da decadência dos partidos comunistas e, com efeito, não só aqueles que se assumem abertamente como partidos sociais-democratas, mas também a maioria dos que se consideram partidos comunistas, incluindo o PDS que manobra entre estes dois.

O anti-stalinismo é hoje, realmente, o maior obstáculo à unificação dos comunistas, como foi ontem o fator principal da destruição dos partidos comunistas e dos estados socialistas.

Quero introduzir só duas testemunhas para esta afirmação, que estão longe de qualquer suspeita de «stalinismo».

A primeira é o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros americano, John Foster Dulles, a segunda, ninguém menos do que Gorbatchov.

Dulles, extremamente cheio de esperança, expressou-se assim depois do XX Congresso do PCUS: «A campanha anti-Stálin e a liberalização do seu programa provocaram uma reação em cadeia, que a longo prazo é imparável.»1

Gorbatchov caracterizou acertadamente o anti-stalinismo – e assim involuntariamente também o conteúdo principal da sua ação – quando respondeu a uma pergunta sobre o «stalinismo» na URSS, durante uma entrevista para o jornal do PCF, l'Humanité, em 4 de Fevereiro de 1986: «Stalinismo é um conceito que os adversários do comunismo inventaram e que é usado amplamente para difamar a União Soviética e o socialismo no seu conjunto.» (Ninguém pode, portanto, afirmar que Gorbatchov não sabia o que fazia com a sua campanha anti-Stálin.)

O elemento do anti-stalinismo de longe com mais efeito é a apresentação de Stálin como um déspota ávido de poder, como um assassino de milhões de inocentes sedento de sangue.

Haveria muito a dizer sobre isto. Aqui, resumidamente, só as seguintes notas:

Primeiro: pode lamentar-se profundamente, mas é um fato que, ainda, nunca uma classe dominada deitou fora o jugo da classe dominante, sem que a sua luta de libertação revolucionária e defesa das tentativas de restauração contrarrevolucionárias tenha custado a vida de muitos inocentes.

Segundo: a contrarrevolução sempre usou este fato para rotular os revolucionários, aos olhos das massas, como criminosos detestáveis, como assassinos e sedentos de sangue: Thomas Müntzer, Cromwell, Robespierre, Lênin, Liebknecht, Luxemburg.

Terceiro: só o preconceito cego pode não ver ou negar a relação causal entre o assumir do poder pelo fascismo alemão, assim como o armamento e expansão para Leste, apoiados com simpatia pelas potências vencedoras ocidentais, e os processos de Moscou, assim como as medidas repressivas contra os estrangeiros, imigrantes incluídos. Bertolt Brecht viu muito bem esta relação quando afirmou: «Os processos são um ato de preparação da guerra». Formulado de forma ainda mais exata: foram uma resposta à preparação fascista-imperialista para o assalto à União Soviética.

Sem a certeza do assalto, mais tarde ou mais cedo, à União Soviética – não há nem processos de Moscou, nem «depurações» draconianas para impedir uma 5ª Coluna no país.

Quarto: só politicamente cegos ou muito ingênuos podem ignorar que nem Khruchov, nem Gorbatchov foram conduzidos por sentimentos de repulsa perante a injustiça e a desumanidade na sua denúncia de Stálin; se tivesse sido assim então teriam atacado o imperialismo e os seus expoentes, pelo menos com a mesma implacabilidade com que atacaram Stálin. Mas o contrário foi o caso: o traço característico das suas políticas foi o ganhar a confiança do imperialismo, apesar dos seus crimes sanguinários contra Humanidade!

Quinto: em completa contradição com esta posição está o fato de que mesmo o representante diplomático da principal potência imperialista, o embaixador dos EUA, Joseph A. Davies, fez uma avaliação positiva de Stálin, mas esta e outras avaliações nesse sentido de testemunhas contemporâneas sobre a URSS foram censuradas na URSS desde o XX Congresso.

Por isso, primeiro, algumas apresentações sobre os processos de Moscou.

Em primeiro lugar, excertos do livro de J. E. Davies, publicado em 1943, em Zurique, Embaixador americano em Moscou. Relatórios autênticos e confidenciais sobre a URSS até Outubro de 1941.

Davies acompanhou, como todos os diplomatas que o desejaram, os processos de Moscou como testemunha ocular (era jurista de profissão).

Telegrafou a sua impressão sobre o processo contra Bukharin e outros para Washington em 17 de Março de 1938. Seguem-se excertos do telegrama: «Apesar do preconceito (…) depois da observação diária das testemunhas e da sua forma de depor, por causa da confirmação inconsciente que resultou (…) cheguei à conclusão de que, no que diz respeito aos réus políticos, se provou um número suficiente dos delitos contra a lei soviética enumerados no libelo acusatório e que se encontram fora de dúvida para o pensamento racional, para justificar a averiguação de culpa de traição à pátria e a respectiva condenação com a pena prevista na lei criminal soviética. A opinião dos diplomatas que assistiram regularmente às sessões foi, no geral, que o processo revelou a realidade de um complot seriíssimo e veementemente político, que esclareceu aos diplomatas muitos dos até agora incompreensíveis acontecimentos dos últimos seis meses na URSS.»2

Davies já tinha acompanhado o processo contra Radek e outros e informado, em 17 de Fevereiro de 1937, o secretário de Estado dos EUA. Neste relatório escreve, entre outras coisas:

«Observação objetiva…levou-me (contudo) com repugnância à conclusão de que o Estado provou realmente a sua acusação (pelo menos na medida em que foi posta fora de dúvida a existência, entre dirigentes políticos, de uma conspiração alargada e intrigas secretas contra o Governo soviético e, de acordo com as leis existentes, os supostos crimes do libelo acusatório foram cometidos e são puníveis). Falei com muitos, com quase todos os membros do Corpo Diplomático e, talvez com uma única exceção, todos foram da opinião de que as sessões provaram claramente a existência de um plano secreto político e uma conspiração com o objetivo de derrubar o Governo.»3

No seu diário, Davies anotou, em 11 de Março de 1937, o seguinte episódio significativo: «um outro diplomata fez-me ontem uma observação muito elucidativa. Falávamos sobre os processos e ele afirmou que os réus eram sem dúvida culpados; todos os que assistiam às sessões estavam de acordo sobre isso. Pelo contrário, o mundo parecia pensar de acordo com os relatos do processo, que o processo era pura encenação (chamou-lhe de fachada); ele sabia, na verdade, que não era justo, mas todavia talvez fosse melhor assim, que o mundo adotasse esta [opinião]»4.

Davies relatou também sobre as muitas prisões e falou das «depurações» com o ministro soviético dos Negócios Estrangeiros, Litvinov, em 4 de Julho de 1937. Sobre as exposições de Litvinov relatou: «Litvinov (...) declarou que através destas depurações se tinha de ganhar a segurança de que não existia mais nenhuma traição com a possibilidade de trabalho conjunto com Berlim ou Tóquio. Um dia, o mundo compreenderia que o acontecido tinha sido necessário para proteger o seu Governo “da traição ameaçadora”. Sim, na verdade prestavam um serviço a todo o mundo, já que quando se protegiam do perigo do domínio mundial dos nazistas e de Hitler, a União Soviética tornava-se num poderoso baluarte contra a ameaça nacional-socialista. Chegaria o dia em que o mundo deveria reconhecer que homem excepcional era Stálin.»5

Elucidativa é também a descrição de Davies da sua conversa com Stálin, numa carta à sua filha de 9 de Junho de 1938. Bastante impressionado com a personalidade de Stálin, escreveu: «Se consegues imaginar uma personalidade que em todos os aspectos é completamente o contrário do que o adversário de Stálin mais furioso conseguiu imaginar, então tens a imagem deste homem. As condições, que eu sei que aqui existem, e esta personalidade afastam-se tanto como dois polos. A explicação naturalmente está em que as pessoas estão dispostas a fazer pela sua religião ou “causa”, o que nunca fariam sem isso.»6

Depois do assalto dos fascistas à URSS, Davies resumiu as suas opiniões, em 1941, notando que os processos de lesa-pátria tinham «dado o golpe de misericórdia à 5ª coluna de Hitler na Rússia».7

Já em 1936 tinha decorrido o processo contra Zinoviev e outros. O renomado advogado britânico D. N. Pritt teve a oportunidade de o observar. Relatou as suas impressões no seu livro de memórias, From Right to Left, publicado em Londres em 1965:

«A minha impressão foi de (...), que o processo foi conduzido em geral de forma justa e que os réus eram culpados (…) A impressão de todos os jornalistas com quem pude falar foi também a de que o processo foi justo e os réus culpados e certamente todos os observadores estrangeiros, os quais na sua maioria eram diplomatas, pensavam o mesmo…Ouvi um deles dizer: naturalmente que são culpados. Mas temos de negá-lo por razões de propaganda.»8

Resulta, portanto, que depois do juízo competente de tais especialistas burgueses em direito, como Davies e Pritt, os réus dos processos de Moscou de 1936, 1937 e 1938 foram condenados justamente e foram provados os crimes de que eram acusados.

Neste contexto devem ser lembradas, mais uma vez, as considerações de Bertolt Brecht, nesse tempo, sobre estes perturbantes processos; escreveu por exemplo sobre a concepção dos réus:

«A falsa concepção conduziu-os profundamente ao isolamento e ao crime comum. Toda a escória do país e do estrangeiro, todo o parasitismo, o espiolhar, a criminalidade profissional aninharam-se neles. Tinham o mesmo objetivo com toda esta escumalha. Estou convencido que esta é a verdade e estou convencido que esta verdade certamente tem de soar plausível também na Europa Ocidental aos leitores inimigos (…) O político a quem só a derrota ajuda [a chegar] ao Poder, é pela derrota. O que quer ser “salvador”, introduz uma situação na qual pode salvar, ou seja, uma má situação. (…) Trotski viu, em primeiro lugar, o perigo da derrocada do Estado dos trabalhadores numa guerra, mas depois ela própria tornou-se, cada vez mais, na condição prévia da sua atuação prática. Se a guerra chegar, a construção “precipitada” desabará, o aparelho isolar-se-á das massas, terá de ceder ao exterior a Ucrânia, Sibéria Oriental e etc., fazer concessões no interior, regressar a formas capitalistas, reforçar os kulakes ou deixar que se reforcem; mas tudo isto é simultaneamente a condição prévia de um novo procedimento, do regresso de Trotski.

Os centros anti-stalinistas descobertos não têm a força moral para apelar ao proletariado, não tanto porque esta gente é covarde, mas sim porque não têm realmente bases organizadas nas massas, não podem oferecer nada, não têm tarefas para as forças produtivas do país. Assim é de confiar que eles confessam a mais do que a menos.»9

Se partirmos do princípio que Davies e Pritt (e Brecht) tinham razão na sua análise dos processos de Moscou, então surge necessariamente a pergunta: Os que – como Khruchov e Gorbatchov – declararam posteriormente vítimas inocentes os condenados nos processos, não o terão feito porque simpatizavam com eles ou até eram seus cúmplices secretos e queriam completar a sua causa fracassada na altura?

E quando, então, observamos mais pormenorizadamente a sua ação política (de Khruchov, Gorbatchov e seus iguais) temos de constatar que as confissões dos acusados dos processos de Moscou, sobre as suas intenções e objetivos e os métodos utilizados para os atingir, são como guias para Khruchov e especialmente Gorbatchov. Isto sugere-nos uma dupla conclusão.

Quanto a uma, desde o XX Congresso do PCUS que os processos de Moscou podem servir como chave para o esclarecimento e decifração do que conduziu a União Soviética, outros países socialistas e o movimento comunista ao percurso difícil. Quanto à outra, a ação de Khruchov e Gorbatchov e os seus resultados demonstram que os processos de Moscou não se trataram de uma encenação espetacular, mas sim que neles foram descobertos e frustrados complots do mesmo gênero dos que foram planejados com o mesmo fim e puderam ser finalmente conduzidos por Gorbatchov, porque já nenhum processo de Moscou lhes pôs termo.

Se a descrição de Stálin como um déspota ávido de sangue e o «seu» regime como o inferno na terra serviram para paralisar a resistência contra a contrarrevolução de Khruchov-Gorbatchov, a descrição de Stálin como um adulterador dos princípios leninistas aspirava ao desarmamento teórico e ideológico do movimento comunista e de todos os socialistas. A maior parte deste gênero de munições tem origem no arsenal do trotskismo. Quero apresentar alguns poucos exemplos.

 

1. A questão da vitória do socialismo num só país

O desmoronamento dos países socialistas europeus e principalmente da URSS é apresentado como prova da correção da tese trotskista sobre a impossibilidade da construção do socialismo num só país, em que normalmente é silenciado que foi Lênin quem pela primeira vez, em 1915, escreveu sobre a possibilidade do socialismo num só país. É conhecido o que Lênin afirmou no artigo, Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa10: «A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Daqui decorre que é possível a vitória do socialismo primeiramente em poucos países ou mesmo num só país capitalista tomado por separado.» Trotski, desde há anos adversário encarniçado de Lênin, contestou de imediato com a afirmação de que era inútil acreditar «que por exemplo uma Rússia revolucionária podia (...) impor-se perante uma Europa conservadora11

Stálin, que de acordo com os trotskistas atuais é o suposto inventor da tese da possibilidade da construção do socialismo num país, defendeu, na verdade, a tese leninista contra Trotski.

«Que significa a possibilidade da vitória do socialismo num só país?

Significa a possibilidade de resolver as contradições entre proletariado e campesinato através das forças internas no nosso país, a possibilidade da tomada do poder pelo proletariado e da utilização deste poder para a construção da sociedade socialista no nosso país, com a simpatia e apoio do proletariado de outros países, mas sem a vitória prévia da revolução proletária noutros países. (…)

Que significa a impossibilidade da vitória completa, final, do socialismo num só país sem a vitória da revolução noutros países? Significa a impossibilidade de uma total garantia contra a intervenção e, consequentemente, contra a restauração da ordem burguesa, sem a vitória da revolução, pelo menos, numa série de países.»12

Mas Stálin não se limitou a defender a tese de Lênin. Sob a sua direção o PCUS forneceu a prova da justeza da tese leninista através da construção do socialismo e a afirmação da URSS contra os agressores fascistas.

Pelo contrário, Trotski foi tão frequentemente desmentido pela História, como quando previu o desmoronamento da URSS, e isto acontecia mais do que uma vez por ano. Numa das suas últimas previsões do gênero, publicada em 23 de Julho de 1939, garante que «o regime político não sobreviverá a uma guerra».13

O desejo é indubitavelmente o pai desta profecia!

Isto transpirava tão claramente de todas as afirmações de Trotski nesses anos, que o escritor burguês alemão, Lion Feuchtwanger, tirou daí a seguinte conclusão: «O que sobreviveu então de todos estes anos de deportação, qual é hoje o objetivo principal de Trotski? Regressar de novo ao país, chegar ao poder a qualquer preço.» Mesmo ao preço do trabalho conjunto com os fascistas: «Se Alcíbiades se passou para os persas, porque não Trotski para os fascistas?».14 (Também Feuchtwanger foi testemunha ocular de um dos processos de Moscou, o segundo, contra Radek, Piatakov e outros, Janeiro 1937.)

 

2. Stálin e a Nova Política Econômica

Uma das acusações de Gorbatchov contra Stálin consistia na afirmação de que Lênin, nos seus últimos trabalhos de aperfeiçoamento da «Nova Política Econômica», apontou um novo caminho para a construção da nova sociedade socialista, que Stálin abandonou. Esta censura é aproveitada por anti-stalinistas de todas as cores, na qual se afirma que Stálin substituiu a concepção de Lênin da NEP15 por um «rumo monopolista de Estado» e assim arruinou o socialismo.

O núcleo da Nova Política Econômica consistia, segundo Lênin, no alicerçar da união política da classe trabalhadora e do seu Estado com largas camadas do campesinato através da união econômica com a economia rural. «Quando derrotarmos o capitalismo e estabelecermos a união com a economia rural, então seremos uma força invencível», disse no XI Congresso do PCR(B) em 192216. Stálin compreendia exatamente assim a NEP e continuou-a depois da morte de Lênin:

«A NEP é a política da ditadura do proletariado, que está dirigida para a subjugação dos elementos capitalistas e a construção da economia socialista através da utilização do mercado, mediante o mercado, mas não através da troca direta dos produtos sem mercado, sob a exclusão do mercado. Podem os países capitalistas, pelo menos os mais desenvolvidos entre eles, dispensar a NEP na passagem do capitalismo para o socialismo? Penso que não. Neste ou naquele grau, a Nova Política Econômica com as suas relações de mercado, no período da ditadura do proletariado, é absolutamente imprescindível para qualquer país [de economia] capitalista.

Entre nós há camaradas que contestam esta tese. Mas o que significa contestar esta tese?

Significa, em primeiro lugar, partir do princípio de que nós, imediatamente a seguir à tomada do poder pelo proletariado, já disporíamos de aparelhos, cem por cento prontos, de distribuição e abastecimento intermediários das trocas entre cidade e campo, entre indústria e pequena produção, que permitem a imediata troca direta de produtos sem mercado, sem transações de compra e venda, sem o estabelecimento de um economia monetária. Só é preciso colocar esta questão para compreender como seria absurda tal hipótese.

Significa, em segundo lugar, partir do princípio de que a revolução proletária, depois da tomada do poder pelo proletariado, percorre o caminho da expropriação da pequena e média burguesia e tem de se impor o fardo de fornecer trabalho aos milhões de novos desempregados criados artificialmente e cuidar do seu sustento. Só é preciso colocar esta questão para compreender como seria disparatada e insensata uma tal política da ditadura proletária.»17

Porquê uma citação tão pormenorizada sobre um tema tão pouco atual?

Primeiro, porque estamos convencidos que este tema – a política econômica para a construção do socialismo – só está arredado temporariamente da ordem do dia na Europa (e de forma nenhuma noutros lugares); segundo, porque é necessário lembrar que existe uma extraordinária riqueza em conhecimentos teóricos e experiências práticas sobre construção socialista bem sucedida, mas que foi colocada no Index como «stalinismo» pelos sucessores de Lênin e Stálin, para que caísse no esquecimento; finalmente, terceiro, porque entre a esquerda anticapitalista se divulga uma tese de pseudo-esquerda, cujo mais conhecido divulgador é Robert Kurz, segundo a qual a raiz de todo o mal não é o capitalismo mas sim a produção de mercadorias; o socialismo desmoronou-ser porque manteve a produção de mercadorias em vez de passar diretamente para a troca direta de produtos. Perante tais teses a citação acima é até muito atual!

Por que pôde o revisionismo destruir os resultados de décadas de construção socialista?

Naturalmente existem muitas razões. Uma muito importante, na minha opinião, é: o revisionismo apresentou-se durante muito tempo permanentemente como antirrevisionismo, como defesa do leninismo contra a sua suposta falsificação por Stálin. Só quando a sua obra destruidora estava praticamente concluída é que Gorbatchov retirou a máscara do comunista, do leninista e se declarou publicamente simpatizante da socialdemocracia, ou seja anticomunista e antileninista.

Mas o anti-stalinismo foi, desde o início, de acordo com o núcleo da sua natureza, antileninismo, antimarxismo e anticomunismo.

No entanto, mesmo agora, muitos do campo comunista não reconhecem ainda isto, porque se encontram ainda sob a influência de décadas de propaganda de ódio anti-stalinista dos secretários-gerais anticomunistas do PCUS desde o XX Congresso, que compararam Stálin a Hitler – precisamente aquele Stálin que – como Ernst Thälmann previu – partiu o pescoço a Hitler!

Temos de tornar claro que, na luta contra o anti-stalinismo, só se trata à primeira vista da pessoa de Stálin, mas que na sua essência se trata da questão da existência do movimento comunista: mantemo-nos – como Marx, Engels, Lênin e Stálin – firmemente no fundamento da luta de classes ou vamos – como os anti-stalinistas Khruchov, Gorbatchov e seus iguais – para o terreno da conciliação com o imperialismo? Esta é a questão, de cuja resposta depende o destino do movimento comunista. E como esta questão só pode ser corretamente respondida quando se eliminar o veneno revisionista em todas as suas manifestações, será preciso também vencer o anti-stalinismo nas suas fileiras.

 

1 In: Arquivo do Presente, de 11 de Julho de 1956.

2 J. E. Davies, Embaixador em Moscou, p. 209.

3 Idem, p. 33 e segs.

4 Idem, p. 86.

5 Idem, p. 128.

6 Idem, p. 209.

7 Idem, p. 209.

8 N. Pritt, From Right to Left, Londres, 1965, p. 110 e seg.

9 Bertold Brecht, Escritos sobre Política e Sociedade, Vol. I, 1919-1941, Aufbauverlag, Berlim e Weimar, 1968, p. 172 e seg.

10 Lénine, Obras Escolhidas em 3 Tomos, Edições Avante!, Lisboa, 1977 Vol 1, p. 570 [N. do Ed.].

11 Trotski, Escritos, Vol III, parte I, p. 89 e seg.

12 Stalin, Obras, Vol. 8, p. 58.

13 Leon Trotski, La lutte antibureaucratique en URSS, Paris, 1976, p. 257, cit. por: Ludo Martens, Un autre Regard sur Staline, Version non-définitive, Bruxelles, 1993, p. 133.

14 Lion Feuchtwanger, Moscou, 1937. Um relato de Viagem Para os Meus Amigos, publicado pela primeira vez na Ed. Querido, México, 1937; Nova edição na Aufbau-Taschenbuch-Verlag, Berlim, 1993, p. 89.

15 NEP- Sigla de Novaia Ekonomitcheskaia Politika (Nova Política Econômica). (Nota do editor)..

16 Lênin, Obras, Vol. 33, p.272.

17 Stalin, Obras, Vol. 11, p. 128 e seg.

Para a História do Socialismo

www.hist-socialismo.net

Documento retirado de www.kurt-gossweiler

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

População reergue estátua de Stalin na Geórgia



 
 Moradores reerguem estátua de Stalin na GeórgiaDois anos atrás, após ganhar cerca de 150 euros num trabalho temporário, o aposentado Lazarishvili pagou cerca de 40 euros para restaurar a pintura e o bronze de uma estátua de Stalin que ficava em sua cidade natal, Telavi, na parte oriental da Geórgia. Não muito tempo depois, o governo de direita de Saakashvili confiscou a estátua sob a alegação de que ela representava “ideais soviéticos”.
Para Lazarishvili isso foi um tapa em seu rosto. “Stalin foi a pessoa mais humana”, disse Lazarishvili contemplando outra estátua de Stalin, esta na cidade de Zemo Alvani. “Ele amaparava as pessoas pobres e nunca puniu nem 1% (um por cento) daqueles que mereciam punição. Deveríamos imita-lo no seu cuidado com as pessoas”.
Naquele dia a cidade de Zemo Alvani celebrava o aniversário de Stalin com o retorno da estátua, mas em 2011 a mesma campanha anti-soviética removeu também este monumento, além de vários outros em diversas cidades. Os cidadãos de Alvani esconderam a estátua em uma fábrica de sorvetes abandonada mas acabaram danificando-a no processo.
Após as eleições de outubro último, que varreram o partido direitista de Saakashvili do poder, os cidadãos de Zemo Alvani se sentiram livres para restaurar a estátua e retorna-la para o que consideravam seu devido lugar.
Eles coletaram dinheiro e reinauguraram o monumento no dia do aniversário de Stalin.
Entre o público presente havia pessoas que viveram durante os anos de Stalin. Alguns dedicaram poemas ao líder bolchevique, lembrando a educação gratuita no período soviético.
Havia também diversos jovens que nem chegaram a conhecer o governo soviético, menos ainda a liderança de Stalin, mas demonstrando enorme entusiasmo.
Tsiskarishvili pagou parte da restauração da estátua de Stalin Visitante em Zemo Alvani
Levan Otiuridze, um estudante de direito de 22 anos da Universidade de Tbilisi, afirmou que a juventude foi a força motriz neste processo de restauração.
“Sabemos que toda essa informação negativa sobre Stalin é fabricada”, afirmou. “Esperamos que este novo governo respeite nossa posição, caso contrário os tiraremos de lá”.
“Eu vim aqui porque eu amo Stalin e amo o meu povo”, disse Phatima Patishvili, moradora de Zemo Alvani. “Eu me lembro quando tinha 12 anos o quanto minha avó chorou quando Stalin morreu”.
A vontade do povo
Enquanto a cidade de Zemo Alvani celebrava a restauração do monumento, a cidade de Gori, berço de Stalin, estava em meio à reconstrução de um parque que irá abrigar sua própria estátua do líder soviético – a mesma que foi removida da praça principal em 2010 sob protestos da população.
Esta estátua, erigida em 1952, um ano antes da morte de Stalin, foi movida então para o Museu Joseph Stalin, em Gori.
Soso Vakhtangishvili, parlamentar eleito no ano passado, afirma que se os moradores estão exigindo a restauração da estátua então isso deve ser uma prioridade para o governo local.
“Se as pessoas querem a estátua de Stalin de volta o governo local deve encaminhar essa questão”, disse.
O aposentado Lazarishvili retornou à sua cidade, Telavi, na noite seguinte à comemoração do aniversário de Stalin em Zemo Alvani.
“Olhando para aquela estátua eu sinto que Stalin e suas ideias estão vivas”, afirmou.
Glauber Ataide
 
Fonte: AVERDADE

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Estratégia 14-18: o legado e a ruína

     

  Diante da perspectiva da reeleição da Presidenta Dilma, a estratégia midiático-oposicionista - que aglutina não somente os interesses mais conservadores da sociedade brasileira, mas também a velha reação política - já está trabalhando 2018, não somente 2014. Eles sabem que hoje não tem nenhum projeto convincente capaz de derrotar Lula e Dilma na próxima eleição, pois o Presidente FHC chamando Malan e Armínio Fraga para comporem o “novo” de Aécio, já declara esta impotência.

               
       
No final do seu conto-ensaio “Barcelona, la ciudad de Pepe Carvalho”, Vásquez Montalbán encerra o texto com a seguinte sentença de sabor arqueológico, que vai mais além da sua reclamação contra as obras faraônicas preparatórias às Olimpíadas, na histórica cidade mediterrânea: “Porque cada época constrói as suas ruínas.”

Cada época constrói o seu legado arquitetônico, cultural, político, que mais tarde será objeto de uma “arqueologia”, em busca de tentar desvendar no passado as condições do presente. Isso vale para séculos e milênios, como também para análises mais curtas, temporalmente, para propor tanto projeções políticas como expectativas existenciais.

Neste momento da história nacional estamos preparando o legado que vai ser objeto de uma contundente disputa nas eleições de 2018. Seu “centro” será a anatomia da era Lula (ali já a era Lula-Dilma) ou a anatomia do legado do PT nos então quatro governos anteriores. As forças políticas do país já se movem para encravar, nos dias de hoje, os pilares da sua sustentação para o fim da década.

A agenda já é meticulosamente trabalhada, através da mídia oposicionista: a oposição, midiática e partidária, já tem como objetivo central derrotar o PT e para isso é preciso ofuscar a visão popular sobre o que era o Brasil - antes e depois dos governos de centro-esquerda com hegemonia do PT -; alternativamente começa a buscar a “reversão por dentro”, ou seja, no limite, conseguir um governo de centro-direita, com tinturas de centro-esquerda (sem o PT).

Utilizo, neste primeiro momento, a sentença sobre as “ruínas” de Montalbán, no sentido de elementos políticos, que são fixados agora, para serem desvendados nas disputas de opinião, da informação e de conceituação política no futuro. Trata-se da construção do que já será “passado”, em 2018, com o esgotamento do atual ciclo de crescimento e distribuição de renda (baseado corretamente no par “salário- consumo”) para usar este passado como fundamento de uma proposta para os próximos vinte anos.

Talvez, ali, já sejam 50 milhões que saíram da pobreza e que passarão a querer mais, com mais qualidade, mais possibilidades de lazer e formação, mais moradias. Mais felicidade... Em 2018 a estrutura de classes da sociedade brasileira será outra, as demandas sociais terão outra qualidade e o jugo do capital financeiro sobre a economia mundial será ainda mais complexo e agressivo.

Faço este exercício, a partir da convicção que a Presidenta Dilma será reeleita e que a estratégia midiático-oposicionista - que aglutina não somente os interesses mais conservadores da sociedade brasileira, mas também a velha reação política - já está trabalhando 2018, não somente 2014. Eles sabem que hoje não tem nenhum projeto convincente capaz de derrotar Lula e Dilma na próxima eleição, pois o Presidente FHC chamando Malan e Armínio Fraga para comporem o “novo” de Aécio, já declara esta impotência.

O primeiro movimento da agenda neoliberal deste período foi tentar separar Lula de Dilma, dizendo que esta seria “técnica” e moderada, e Lula incompetente e tolerante com a corrupção. O segundo movimento foi a super-exploração da Ação Penal 470, contra Lula e o PT estabelecendo um nexo entre corrupção, estado e partido. Agora, a estratégia desdobra-se no ataque às políticas de desenvolvimento, mesmo depois da virada histórica na política de juros, que era uma demanda universal da sociedade brasileira, menos das agências financeiras privadas.

O resultado não foi bom: caiu o prestígio da mídia tradicional, Dilma tem uma popularidade grandiosa e o PT, mesmo ferido, aumentou seus vereadores, prefeitos e vice-prefeitos, nas eleições municipais. A esquerda, em geral, cresceu, mas esta derrota de curto prazo vai estimular que os esforços conservadores sejam redobrados.

Preocupa apenas um efeito, já constituído por este ambiente de disputa antecipada. Circula uma clara vertente fascista nas redes, com um ódio antipetista e antilula, que num certo momento pode atravessar as barreiras da racionalidade mínima e tornar-se ação violenta. A alta classe média já tentou esta política, cujo primeiro exercício fracassado foi o “cansei”.

Devemos manter a atenção no espectro político real do país. O Brasil tem um “centro” democrático e progressista, espalhado nos diversos partidos, que tem necessidade de compartilhar do poder. Este centro representa segmentos de classes, distribuídos regionalmente, que não podem ser deixados de lado, disponíveis para a cooptação da direita conservadora.

Estes setores centristas devem ser chamados a continuar conosco, no próximo período, a partir de um programa que - fazendo a transição entre 14 e 18 - possa mostrar-se renovado, viável, coerente: com capacidade de seduzir os milhões de brasileiros que saíram da invisibilidade e da irrelevância social para o espaço iluminado da política e da inclusão.

Alguém vai “ganhar” estas pessoas no próximo período, pois elas comporão os novos movimentos sociais e movimentarão, eleitoralmente, o transatlântico que, em 2018, já terá dado a volta completa. Os ataques aos políticos e aos partidos tradicionais que apoiam Lula não podem nos tirar a clareza de que é necessário ter alianças, embora reformatadas política e programaticamente.

O que o PT e a esquerda precisam constituir, agora, é uma clara agenda da esquerda, para ser implementada dentro da ordem constitucional, que integre dois movimentos distintos (em esferas de participação política diferentes) e configure um novo modo de fazer política: uma agenda de reformas institucionais de democratização do Estado, de eficientização das políticas públicas e de reforma política, combinada com uma agenda de promoção de participação cidadã, nas grandes decisões sobre as políticas sociais, trazendo os movimentos sociais para uma “co-gestão” das políticas sociais do Governo.

Quebrar as barreiras burocráticas que separam o cidadão comum das fontes de decisão estatal é uma forma de combinar a representação, derivada das eleições, com a democracia direta de participação voluntária.

Há um segundo bloco de políticas estratégicas de direita, em curso no país: a fraude informativa de que a “higienização” da política é de competência do Poder Judiciário. A desmoralização dos políticos em geral e especialmente dos espaços parlamentares de atuação política, é uma estratégia que tem o apoio ostensivo da chamada extrema-esquerda. Esta, não tendo um projeto viável para o país, dentro do Estado Democrático de Direito, faz a aposta suicida na desmoralização das instituições “burguesas” da democracia, como se tivéssemos alguma coisa nova para colocar no lugar delas, de forma imediata.

Estas construções políticas de hoje que visam aniquilar o espaço da política, sim, podem ser chamadas de “ruínas” no sentido literal. É o que a direita conservadora quer legar para o futuro para montar sua volta ao poder em 2018: desmoralizar a política e as instituições democráticas; desmontar as frestas que as revoluções do século passado legaram para democratizar a vida política; acabar com as políticas de combate à pobreza e reinaugurar a desesperança. Ceticismo e desesperança fazem a estrada que leva ao fascismo e ao autoritarismo. Esta é a “solução final” que hoje a direita brasileira cultiva.

(*) Governador do Rio Grande do Sul

No Mali, não há uma guerra do bem contra o mal

     

 

Não aceitem a narrativa frequentemente empurrada pela mídia ocidental sobre o Mali, que estereotipa aquilo que se considera o mal assim como faz com a brutal guerra civil imposta na Síria. No Mali, até há pouco o governo nacional perseguia e matava os islâmicos que agora se voltam contra ele. Além disso, muitos dos revoltosos são os tuaregues expulsos da Líbia pós-Kaddafi.

 
Sem qualquer controle, sem debate, sem votação parlamentar, sem nenhuma sutileza. A Grã-Bretanha está agora envolvida em mais um conflito militar em um país muçulmano, fiquem sabendo. Aeronaves britânicas estão voando rumo ao Mali, enquanto a França bombardeia o país, argumentando que a milícia islâmica malinesa poderia criar um “estado terrorista” que ameaçaria a Europa. A Anistia Internacional e especialistas da África Ocidental alertam para o potencial desastre da intervenção militar estrangeira, mas as bombas “chovendo” nas cidades malinesas de Konna, Léré e Douentza sugerem que eles foram definitivamente ignorados.

A agonia no Mali surgiu apenas atualmente em nossas manchetes, mas as raízes são antigas. Como as outras potências coloniais ocidentais que invadiram e conquistaram a África a partir do século 19, a França usou táticas de dividir para reinar no Mali, levando a amargura entrincheirada entre os povos nômades Tuaregues – a base da revolta atual – e outras comunidades do Mali.

Para alguns ocidentais, este é um passado distante que deve ser ignorado, não remexido, e certamente não será usado para impedir nobres intervenções, mas as consequências ainda são sentidas diariamente. Inicialmente, o ministro de Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, sugeriu que o legado colonial descartaria uma intervenção liderada pela França, mas pode se dizer que o envolvimento direto francês ocorreu de forma muito mais rápida do que o esperado.

É que esta intervenção é, na verdade, consequência de outra. A guerra da Líbia é frequentemente apontada como uma história de sucesso para o intervencionismo liberal. No entanto, a queda da ditadura de Muammar Kaddafi teve consequências que os serviços de inteligência ocidentais provavelmente nunca sequer se preocuparam em imaginar. Tuaregues – que tradicionalmente vieram do norte do Mali – compunham grande parte do exército de Kaddafi. Quando o ditador foi expulso do poder, eles voltaram para sua terra natal: às vezes à força. Do mesmo modo, negros africanos foram atacados no pós-Kaddafi na Líbia, um fato incômodo amplamente ignorado pela mídia ocidental.

Inundados com armas da Líbia em tumulto, tuaregues viram uma abertura para seu sonho de longa data rumo à autodeterminação nacional. Com a propagação de uma rebelião, o democraticamente eleito presidente malinês Amadou Toumani Touré foi deposto em um golpe militar e o exército manteve a sua dominação – apesar de permitir que um governo civil lidere a transição para tomar o poder.

Pode não haver certamente simpatia pela milícia agora em luta contra o governo do Mali. Originalmente, eram os nacionalistas seculares do Movimento Nacional para a Libertação de Azawad que lideravam a revolta, mas eles já foram deixados de lado por jihadistas islâmicos com uma velocidade que chocou os analistas estrangeiros. Em vez de alcançar a independência tuaregue, eles têm ambições muito mais amplas, ligando-se a grupos semelhantes do norte do Nigéria. A Anistia Internacional relata atrocidades horrendas: amputações, violência sexual, o uso de crianças-soldado, e desenfreadas execuções extrajudiciais.

Mas não caiam em uma narrativa tão frequentemente empurrada pela mídia ocidental, que estereotipa aquilo que se considera o mal, assim como temos visto a brutal guerra civil imposta na Síria. A Anistia relata brutalidades por parte das forças do governo de Mali, também. Quando o conflito originalmente explodiu, tuaregues foram presos, torturados, bombardeados e mortos pelas forças de segurança, “aparentemente, apenas por motivos étnicos", diz a Anistia. Em julho passado, 80 presos detidos pelo exército foram despojados de suas roupas íntimas, encarcerados em uma cela de 5m², cigarros foram queimados em seus corpos, e eles foram obrigados a sodomizar um ao outro. Já em setembro de 2012, 16 pregadores muçulmanos pertencentes ao grupo Dawa foram presos em um posto de controle e sumariamente executados pelo exército. Estes são atos cometidos por aqueles que agora são nossos aliados.

Quando o Conselho de Segurança da ONU, por unanimidade, abriu o caminho para a força militar ser usada, especialistas fizeram avisos claros e que ainda devem ser ouvidos. O International Crisis Group pediu foco em uma solução diplomática para restaurar a estabilidade, argumentando que a intervenção poderia exacerbar um conflito étnico crescente. A Anistia advertiu que "uma intervenção armada internacional pode aumentar a escala de violações dos direitos humanos que já estamos vendo neste conflito". Paul Rogers, professor de estudos de paz na Bradford University argumentou que as guerras passadas mostram que "uma vez iniciadas, elas podem tomar direções alarmantes, ter resultados muito destrutivos, e muitas vezes aumentar os próprios movimentos que se destinam a combater".

É concebível que esta intervenção pode – por um tempo – atingir seus objetivos de empurrar as milícias islâmicas e reforçar o governo do Mali. Mas a guerra da Líbia foi vista como um sucesso, também, e aqui estamos agora, envolvidos com a seu efeito bumerangue catastrófico. No Afeganistão, as forças ocidentais permanecem engajadas em uma guerra sem fim, que já ajudaram a desestabilizar o Paquistão, levando a ataques que mataram centenas de civis e desencadeando mais caos. O preço das intervenções ocidentais pode muitas vezes ser ignorado pelos nossos meios de comunicação, mas ainda é pago.

A intervenção ocidental liderada pela França, apoiada pela Grã-Bretanha e com possíveis ataques dos norte-americanos, sem dúvida, estimula a narrativa promovida pelos grupos radicais islâmicos. Como aponta o professor Rogers, a ação no Mali vai ser retratada como "mais um exemplo de um ataque contra o Islã". Com o alcance rápido e moderno da comunicação, grupos radicais na África Ocidental usarão esta escalada de guerra como prova de outra frente aberta contra os muçulmanos.

É preocupante – para dizer o mínimo – como o primeiro-ministro britânico, David Cameron, conduziu a Grã-Bretanha no conflito do Mali, sem sequer uma pretensão de consulta. As tropas não serão enviadas, nos é dito, mas o termo "planejamento deficiente" existe por uma razão: é uma escalada que certamente poderia provocar maior envolvimento britânico. O Ocidente tem um histórico terrível de alinhar-se com o mais duvidoso dos aliados: o lado que escolheram está longe dos direitos humanos que democratas os democratas amam.

Mas as consequências podem ser mais profundas. Além de espalhar caos pela região, a França já mapeou seus alvos que podem ser atingidos por terroristas, e o mesmo podem acontecer com seus aliados. É uma responsabilidade de todos nós questionar o que nossos governos estão fazendo em nossos nomes. Se não aprendermos com o que ocorreu no Iraque, Afeganistão e Líbia, então não haverá esperança.

* Owen Jones é colunista do jornal britânico The Independent. Siga-o em twitter.com/@owenjones84
Carta  Maior

Te doy una canción II: 54° aniversário da Revolução Cubana



Por Mauro Iasi
Quanto tempo duram as obras?
Tanto quanto ainda não estão completas.
Pois, enquanto exigem trabalho
Não entram em decadência”

B. Brecht
A Revolução Cubana faz aniversário de 54 anos. Caso consideremos o quadro geral dos tempos em que vivemos, já em si um grande feito, isto é, a experiência cubana vai atravessando da metade de um século ao início do outro com uma dignidade rara em nossa época. Por isso, parabéns aos nossos camaradas cubanos!
No Congresso de fundação do PCC, em 1965, Fidel fazia um alerta que hoje ganha uma significância maior. Dizia o líder cubano:
“Não é fácil, dada a complexidade dos problemas atuais e do mundo atual, manter esta conduta, manter esse inflexível critério, manter essa independência soberana. Mas nós havemos de mantê-la. Essa Revolução não foi importada de parte nenhuma, é um produto autêntico do nosso país, ninguém nos disse como a devíamos fazer e nós a fizemos. Ninguém deverá dizer-nos como a teremos de prosseguir, e nós prosseguiremos. Aprendemos a escrever a história continuaremos a escrevê-la. Que ninguém duvide disso!”
Bom, o mundo ficou ainda mais complexo e incrivelmente mais difícil. Fidel se referia à divisão do mundo socialista e ao cisma entre URSS e China e alertava para o fato que os problemas e os rumos da revolução cubana deveriam ser pensados não a partir de modelos preconcebidos ou referencias externas, por mais importantes que esses fossem. Em outra parte de seu discurso lembrando que o marxismo é uma doutrina revolucionária e não um dogma, dizia que “pretender encerrar o marxismo numa espécie de catecismo é ser antimarxista”. Fundado neste pressuposto, Fidel desenvolve seu argumento afirmando que a diversidade das situações exigirá diferentes interpretações e aquelas que se mostrarem corretas e forem consequentemente aplicadas é que podem se chamar de revolucionárias.

Tal princípio se expressa desde a definição das formas estratégicas pelas quais se desenvolveu a luta revolucionária, a definição dos rumos econômicos quando da liderança de Che no ministério responsável, na política internacional e tantos outros exemplos.
Hoje enfrentamos uma situação ainda mais adversa. O bloco socialista se desfez, a Rússia restaurou o capitalismo num misto de monopolismo e gangsterismo, a China o restaura buscando manter o monopólio do poder político com o Partido Comunista ao mesmo tempo em que abre suas fileiras aos novos milionários que brotam do desenvolvimento acelerado da economia de mercado. Neste cenário o que vemos em Cuba tem que ser analisado com cautela. Por um lado trata-se de dar respostas a organização econômica que mantenha a ilha e suas estruturais deficiências em condições de garantir a vida de seus habitantes em um quadro em que não mais se pode contar com o bloco socialista, de outro, a intenção expressa de manter o rumo socialista e as conquistas da revolução nas áreas essenciais como saúde, educação, alimentação e outras.
As recentes mudanças anunciadas vão, aos poucos, revelando os caminhos escolhidos. Respeitando a autonomia e independência que este povo soube com dignidade conquistar só podemos lembrar os princípios anunciados por Fidel: aqueles que souberem apontar alternativas coerentes e as aplicarem de maneira consequente poderão se chamar de revolucionários, os outros serão suplantados.
Nas circunstâncias em que se encontram, os cubanos parecem partir da constatação que é necessário abrir setores da economia ao mercado e reduzir a dimensão da estrutura pública socializada, mantendo o controle político ao reforçar as estruturas do poder popular e a capacidade de direção do Partido. Há uma evidente aproximação da referencia chinesa, mas há diferenças evidentes não apenas pela dimensão das economias dos dois países, como da história política destas formações sociais tão distintas. Esperamos, sinceramente, que os resultados sejam também distintos.
Como estamos iniciando um novo ano, vamos apenas desejar sucesso aos nossos camaradas e confiar em sua determinação de manter nossas metas e horizontes socialistas, pois eles são estratégicos no mundo que viveremos daqui para adiante, para Cuba e para a humanidade. No mesmo discurso Fidel afirmava: “Saberemos correr os riscos desse mundo com dignidade e serenidade. Nossa sorte será a dos outros povos e nosso destino será o destino do mundo”. Para o bem, ou para o mal.
Em épocas como estas, quando exilamos em nós as certezas e convicções que o mundo parece abandonar, abre-se a possibilidade do destino trágico, como teorizou tão bem Lukács. Então busquemos na poesia e na arte a forma de expressão de nossas angústias.
Aqui, mais uma vez, recorro à Silvio Rodriguez que em uma música me lembrou: Martí me ensinou, e creio nele a cada dia, ainda que a crua economia tenha parido outra verdade.
Em seu mais recente álbum, Segunda Cita, Silvio produziu um verdadeiro manifesto em uma canção especialmente dedicado ao aniversário da Revolução Cubana (neste caso, a música foi composta em 2008, ao 49a aniversário) que se chama Sea Señora. Na nota explicativa que acompanha o encarte o autor aclara suas intenções aos dizer que a canção “é um voto à evolução política em Cuba, sem esquecer os pilares de nossa história”.
Após, nos primeiros versos, expressar seu desejo que esta senhora que já foi donzela, aprofunde as marcas deixadas por suas pegadas, declama:
“A desencanto, opóngase deseo.
Superen el erre de revolución.
Restauren lo decrépto que veo,
pero déjenme el brazo de Maceo
y, para conducirlo, su razón”.
 
Como vocês sabem, Maceo foi um dos heróis da Primeira Guerra de independência de Cuba. Mais adiante, na última estrofe, conclui:
“Las fronteiras son ansias sin coraje.
Quiero que conste de una vez aqui.
Cuando las alas se vuleven herrajes,
es hora de volver a hacer el viaje
a la semilla de José Martí”.
 
 Bom, vamos a mais um ano. Coragem!

Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, presidente da ADUFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. 
 
Fonte: Solidários